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Crítica - Romance

Carola Saavedra deixa zona de conforto e dialoga com o teatro

NARRADORES, TEMPOS E ESPAÇOS SE MISTURAM, PERSONAGENS VÃO E VÊM, COM EVENTUAIS MODIFICAÇÕES EM SUAS IDENTIDADES

BEATRIZ RESENDE ESPECIAL PARA A FOLHA

Carola Saavedra, com três romances e um livro de contos publicados, já apresenta um caminho traçado com marca própria. Duas constantes transitam por sua obra: a referência, geralmente indireta, aos laços com seu país de nascimento, o Chile, e o uso de estratégias narrativas que procuram romper com a escritura romanesca tradicional.

Diga-se de passagem que, por vezes, o uso de recursos que pretendem deixar evidente o que há de ficção no ficcional, como um narrador em primeira pessoa masculino, nem são necessários diante do tecido narrativo forte que vem construindo.

Por tudo isso, é interessante o movimento de deslocamento de uma zona de conforto que "O Inventário das Coisas Ausentes" provoca em sua produção.

A narrativa se divide em uma parte mais longa, e uma segunda, breve. Narradores, tempos e espaços se misturam, personagens vão e vêm, com eventuais modificações em suas identidades.

A mulher chamada Nina surge desde o início, identificada pelo homem que será seu parceiro no amor/desamor que atravessa o livro.

A Nina é atribuída uma família que veio do Chile, pai e avô fortes e positivos, esboço de personagens que poderiam fazer girar em torno deles outras ficções.

A segunda parte é a narrativa do grande conflito que atravessa a literatura desde Sófocles, Shakespeare até Kafka: a impossibilidade de relação entre o filho e o pai e do pai com o pai dele. Avô analfabeto, pai rico e culto, filho absolutamente medíocre.

Na construção do romance, Carola Saavedra opta por um modelo que vem aparecendo em outras formas de arte contemporânea, como o teatro ou artes visuais, onde o processo é mais importante do que o resultado final, que pode até não existir.

É o material da carpintaria, o provisório da instalação, o texto ou a imagem que vão se reconstruindo à medida em que são apresentados ao observador, ao público, que constituem a obra.

Aqui, os livros possíveis importam mais do que o livro que temos. Não é fácil, mas é uma tentativa interessante de diálogo com o que é prática artística de nossos dias.


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