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Crítica documentário
Toda rodada entre manifestantes, obra é confusa como eventos que a inspiraram
ANDRÉ BARCINSKI ESPECIAL PARA A FOLHAAté hoje as manifestações de junho de 2013 desafiam explicações. Nascidas de pequenos protestos contra o aumento da tarifa de ônibus, ganharam força após a reação violenta da polícia paulista e tomaram conta do país.
Multidões ocuparam as ruas, protestando contra tudo: a ruindade do transporte público, da educação, a corrupção, a Copa do Mundo.
"20 Centavos", de Tiago Tambelli, é um documentário tão caótico e confuso quanto os eventos que o inspiraram. O filme foi inteiramente rodado na rua. Não há uma entrevista ou imagem em estúdio ou em local "controlado". Ponto para o filme.
Mas, para quem pretende entender mais sobre os protestos --quem foram as lideranças, como o movimento cresceu e como arrefeceu com o vandalismo--, não haverá respostas aqui.
O filme não se dá ao trabalho sequer de identificar as pessoas que aparecem, como os jornalistas Bruno Torturra, da Mídia Ninja, e Leonardo Sakamoto, do UOL. Há cenas inteiras de conflitos entre manifestantes e polícia, sem a identificação do local onde ocorreram.
"20 Centavos" parece mais um registro dos acontecimentos do que um documentário que pretende elucidar algo.
A seu favor, tem cenas de impacto e filmadas da linha de frente: em Brasília, um PM diz a um dos líderes dos protestos: "Você e eu estamos na mesma merda". Há imagens angustiantes de uma multidão linchando um PM, de bombas voando na direção da câmera e da briga entre manifestantes na Paulista, quando uma parte protestou contra a presença de partidos políticos.
Talvez a maior prova da falta de rigor jornalístico do filme seja o fato de que ele abre com uma imagem de índios invadindo a Câmara dos Deputados, em Brasília. O que não é dito é que isso ocorreu em abril de 2013, dois meses antes dos protestos nacionais pelos "20 centavos".