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Crítica - Documentário

Ettore Scola soma cenas de ficção a retrato alegórico e pessoal de Fellini

DO CRÍTICO DA FOLHA

Federico Fellini (1920-93) é um cineasta tão popular que se torna difícil imaginar algum aspecto de sua vida e obra que já não tenha sido rastreado, comentado, analisado e homenageado à exaustão.

O reencontro póstumo que Ettore Scola constrói em "Que Estranho Chamar-se Federico!", porém, não carrega o peso daquele tipo museológico de memória que se confunde com a morte ao mumificar os personagens num perpétuo passado.

Em seu aspecto mais fiel à inspiração felliniana, o filme de Scola não tenta recriar um perfil do Fellini real nem se preocupa com as fidelidades como fazem as cinebiografias. Quanto mais fantasmagórico, alegórico, fabulista, portanto, mais o filme se aproxima do "Fellini real".

Às imagens documentais e ao material (excessivo) extraído de filmes do colega 11 anos mais velho, Scola sobrepõe cenas de pura ficção.

Tanto faz se elas reconstituem anedotas biográficas, como a chegada de Fellini a Roma ou sua entrada para a equipe do jornal satírico "Marc'Aurelio".

Scola transforma esses fatos em cinema ao filmá-los em cenários que mudam conforme a luz, que tornam explícita a dimensão encenada de tudo que ali surge. E ainda agrega um narrador, um guia que, além de conduzir pelos meandros da vida e da obra, reitera que, acima das verdades, importa a fabulação.

Em vez de um documentário "sobre" Fellini, Scola cria, assim, uma ficção "com" Fellini. Para se distinguir da legião de vampiros que sanguessugam o imaginário do autor de "Oito e Meio" (1963) e tantas outras maravilhas, Scola se insere na história.

Primeiro como leitor e admirador e depois como cúmplice dos devaneios noturnos de Fellini pelas vias romanas, Scola viveu uma intimidade com o cultuado diretor e nela se inspira para dar sua visão personalíssima.

Scola, aliás, foi o único a convencer Fellini a representar a si mesmo, em 1974, em seu "Nós que nos Amávamos Tanto" e tira partido desse precedente de já ter convertido o diretor em personagem.

Assim, Fellini liberta-se das garras da morte que tanto o assombrou e perambula por Cinecittà graças a uma mágica que só o cinema tem o poder de fazer.


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