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Crítica - Drama

Personagens são bonecos que falam frases de artigos de jornal

PEDRO BUTCHER COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O filme "Jogo das Decapitações" teve sua primeira exibição em setembro do ano passado, no Festival do Rio. Enquanto o longa era projetado no histórico cinema Odeon, na Cinelândia, do lado de fora uma manifestação era violentamente reprimida pela polícia.

Da sala de cinema ouviam-se as explosões das bombas de gás, enquanto na tela os personagens do filme discutiam os temas lançados pelo diretor Sérgio Bianchi: as heranças mal resolvidas da ditadura militar, o descontentamento com a esquerda que chegou ao poder e a apatia e/ou cinismo da juventude.

Há no filme uma pequena manifestação estudantil observada à distância por Leandro (Fernando Alves Pinto) e Rafael (Sílvio Guindane).

A polícia chega e encerra o protesto com brutalidade. Rafael, que até então criticava tudo com certo desdém, diz: "A única coisa que não muda é a polícia. Ela sempre foi a expressão pragmática da classe média que coloca ordem na casa".

É curioso como "Jogo das Decapitações" passou a ser outra obra depois de junho de 2013 --o próprio diretor admitiu que talvez fizesse tudo diferente.

PROFÉTICO

Se, por um lado, o filme ainda guarda elementos proféticos --como na cena do linchamento público--, por outro, ficou estranhamente ultrapassado.

Bianchi é dos raros cineastas brasileiros dispostos a dar a cara a tapa, tocar em feridas, lançar no ar questões sobre as quais se costuma silenciar --e, só por isso, merece atenção e respeito.

O problema é que, para o diretor, o cinema é uma forma de ilustrar teses, o que transforma seus personagens em bonecos de ventríloquo soltando frases de um artigo de jornal.

Desde "Cronicamente Inviável" (2000), os filmes de Bianchi se tornaram a expressão de uma vontade de provar a iconoclastia do seu autor, longe da interessante experiência estética que marcou seus primeiros trabalhos.


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