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Russos criam cidade fantástica em Paris

Obra da dupla Ilya e Emilia Kabakov no Grand Palais trata do fracasso de utopias defendidas por regimes totalitários

Cúpula que muda de cor ilumina cinco prédios e duas capelas construídas dentro do museu parisiense

SILAS MARTÍ ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Debaixo do teto de vidro do Grand Palais, em Paris, está uma cidade toda branca, de arcadas e cúpulas que lembram um povoado árabe.

"É inacreditável o que fizemos. Construímos uma cidade utópica", diz a artista russa Emilia Kabakov, que faz dupla com o marido, Ilya Kabakov, no megaprojeto. "Mas, como vítimas dos planos mirabolantes da União Soviética, sabemos que nunca chegaremos, de fato, à utopia."

Em cartaz desde maio, a mostra da dupla coincide com o recrudescimento do conflito entre Ucrânia e Rússia, que anexou a região da Crimeia com a deposição do presidente ucraniano Viktor Yanukovych no início do ano.

Embora Emilia negue qualquer intenção política por trás da exposição, a obra parece servir de contraponto plácido e um tanto fantasioso à violência dos embates.

Desde que trocaram a extinta União Soviética pelos Estados Unidos há 40 anos, os Kabakov, hoje grandes astros do circuito global, sempre trataram do fracasso das utopias defendidas por regimes totalitários em sua obra.

E nada mais político do que usar a chance de ocupar o Grand Palais na Monumenta --mostra bienal do espaço parisiense que chama artistas para criar grandes intervenções-- para aludir aos descaminhos de sua terra natal.

"É uma tragédia o que está acontecendo lá", diz Emilia, sobre o conflito. "Mas não falo mais da Rússia. É como se tivesse saído da Atlântida. Meu país não existe mais. Tudo aquilo já desapareceu."

Talvez daí a ambição de criar agora uma cidade inteira. E não qualquer cidade. Em todos os cantos desse estranho povoado com cinco prédios e duas capelas, há obras que falam de um contato com um mundo extraterreno.

"É um palácio de fantasia", diz Emilia. "Ele reage à arquitetura transparente daqui com suas cúpulas e arcadas."

De fato, existe algo de fantástico nesses prédios imaculados dentro do Grand Palais. Eles parecem orbitar um grande vórtice de vidro, uma cúpula que vai mudando de cor numa ponta do espaço.

"Os Kabakov tentam juntar o céu e a terra", compara a russa Olga Sviblova, uma das curadoras da mostra. "Eles descrevem a condição humana. No fundo, querem que todos nós vejamos a luz."

Epifanias à parte, essa cidade branca funciona como retrato às avessas de Estados controlados por ditaduras.

"Fizemos essa instalação pensando nos regimes totalitários, que negam a liberdade de expressão, mas não conseguem controlar o pensamento", diz Emilia. "A União Soviética era o inferno e o paraíso ao mesmo tempo. Mas sabemos que o paraíso não existe sem o inferno."


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