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Sujeito oculto

Público desconhece o papel do coreógrafo nos espetáculos musicais, que vai muito além das cenas de dança

IARA BIDERMAN DE SÃO PAULO

O coreógrafo é o segundo nome na hierarquia do espetáculo, logo abaixo do diretor. Mas o trabalho desse profissional de musicais tem passado quase despercebido.

Em parte, isso acontece porque o público não tem noção do que significa esse trabalho. E, também, porque é bom sinal a coreografia não roubar a cena da produção, em muitos casos.

"O público costuma achar que só as danças, no sentido estrito, são responsabilidade do coreógrafo. Mas ele responde por tudo o que se move em cena", diz o coreógrafo paulistano Alonso Barros.

Com carreira na Europa, para onde se mudou em 1988, Barros faz um caminho de volta ao Brasil. Ele assina a coreografia de "Elis, A Musical", em cartaz em São Paulo, e junta o papel de coreógrafo e diretor em "Se Eu Fosse Você", que estreou no Rio e chega à cidade neste mês.

Nas duas produções, a trama e as músicas muito conhecidas pelo público contribuem para que a coreografia fique em segundo plano.

"Em alguns casos, coreografia boa é a que não se percebe, que não desvia a atenção do público da história que está sendo contada", diz.

Para o diretor José Possi Neto, não há supremacia de dança, música ou diálogos nos musicais. "A parte musical aparece mais hoje em dia por causa de uma tendência de ressuscitar ídolos da música brasileira", diz.

A tendência vem junto com uma encenação mais naturalista, "porque o público gosta de reconhecer seu ídolo e as imagens de época vistas na TV ou no cinema", segundo o diretor Charles Möeller, em cartaz no Rio com "Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos", que chegará em agosto a São Paulo.

Möeller diz não gostar desse naturalismo e não ter recorrido a ele no musical com as canções de Chico. Esse estilo, na avaliação do diretor, empurra o trabalho do coreógrafo para o segundo plano porque "cópia da vida não é coreografia", afirma.

Mesmo assim, o gênero pede um trabalho corporal específico do ator.

"No musical, o corpo vai desenhando as ações. Esse desenho é repetido exatamente da mesma forma em todas as apresentações: então, é coreografia", defende Katia Barros, coreógrafa de "A Madrinha Embriagada", musical que acaba de encerrar a temporada paulista.

"Acho maravilhoso quando a dança não entra para ilustrar, mas para ajudar a contar a história", diz Tania Nardini, que coreografou "O Grande Circo Místico", montagem de João Fonseca que deve estrear em agosto em São Paulo.

SUTILEZA

Um dos desafios é coreografar para um elenco formado, em geral, por não bailarinos. "Tenho que me virar ao montar uma coreografia para quem não dança", comenta o coreógrafo carioca Alex Neoral.

Ao mesmo tempo, Neoral afirma buscar fugir dos clichês da Broadway e incluir elementos de dança contemporânea para transformar a linguagem do jazz, que é a mais usada em musicais.

Em alguns casos, a coreografia do espetáculo deve ser sutil mesmo, explica Neoral.

É o que acontece em seu trabalho "Cazuza - Pro Dia Nascer Feliz", que chega neste mês à cidade.

"É uma biografia muito conhecida de um cantor famoso. Ficaria estranho aparecer todo mundo dançando. Nesse caso, o trabalho é buscar a limpeza de movimentos", diz.

Ser o sujeito oculto da ação não é problema para Neoral.

"No musical estou a serviço do diretor, ilustrando um roteiro pré-concebido. É bom, porque descubro propostas de movimento diferentes e aprendo a me comunicar com qualquer tipo de público."


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