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Crítica - Poesia

Trabalhos de Raul Bopp se deslocam entre a cultura e as mazelas do país

HEITOR FERRAZ MELLO ESPECIAL PARA A FOLHA

A nova edição da "Poesia Completa de Raul Bopp", lançada pela José Olympio, traz algumas novidades em relação à anterior, de 1998, com organização e notas do poeta e crítico Augusto Massi.

Uma delas é o poema-reportagem "Caminho de Pirapora", publicado pela primeira vez em 1928, na revista "Ilustração Brasileira", na qual o poeta gaúcho, autor de "Cobra Norato" e um dos nomes mais conhecidos da famosa "Revista de Antropofagia", faz um retrato poético e sintético de uma viagem à Pirapora do Bom Jesus, no interior de São Paulo, por ocasião da festa de Bom Jesus de Pirapora.

Neste texto, como diz Massi, encontra-se uma "prosa poética, maleável e híbrida, onde diário de viagem, crônica jornalística e poesia telegráfica podiam conviver plenamente".

Pelo caminho, numa caravana de carros, Bopp vai contando o que encontra: do sincretismo religioso, com seu lado festivo e profano, ao grupo de leprosos, cujo desamparo faz o forde parar à beira da estrada, e põe uma nota negativa à "confraternização com a máquina". De certa maneira, é este olhar de quem se desloca por dentro da cultura e das mazelas de um país que encontramos em boa parte de seus poemas.

Em "Cobra Norato", face mais conhecida de sua obra, o antropófago se veste com a pele elástica da Cobra Norato e empreende uma viagem pela "floresta cifrada", percorrendo a tradição popular amazônica, para se casar com a rainha Luzia. É um erudito-antropófago na pele da cultura popular, a síntese pretendida pelo modernismo brasileiro.

Como lembra Massi, na introdução, "Cobra Norato" é o "momento de convergência entre as suas experiências individuais e a vida intelectual instaurada pelo modernismo".

Era o começo do "estilo maduro do poeta", que encontraria seu ponto forte na série de poemas "Urucungo", na qual a viagem é de outra ordem, é a da escravidão no Brasil.

Publicado em 1932, os poemas trazem a crueza da escravidão, como em "Dona Chica" e "Negro" ("A tua primeira inscrição em baixo-relevo/ foi a chicotada no lombo") ou em "Serra do Balalão", e se esticam até a marginalização dos negros, nas favelas cariocas.

O livro reúne ainda outros livros, como "Poemas Brasileiros", "Diábolus" e "Parapoemas", que, apesar de sua qualidade e mesmo de seu humor fino, ficam devendo um tanto ao brilho dos livros anteriores.

Com uma boa fortuna crítica, a edição permite uma nova leitura de Raul Bopp, que, em seu eterno deslocamento, procurou decifrar a música primitiva do país que se modernizava.


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