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Polícia prende dançarinos no metrô de NY

Acusados de pôr passageiros em risco, artistas são o alvo principal dos agentes que andam à paisana nos vagões

Para autoridades, ação ajuda a coibir crimes mais sérios, mas nada indica que tenham sido cometidos delitos graves

MATT FLEGENHEIMER J. DAVID GOODMAN DO "NEW YORK TIMES"

Os jovens dançarinos Peppermint e Butterscotch (os nomes significam "bala de hortelã" e "caramelo") olharam para as pessoas no vagão de metrô de Nova York. Um homem chamou sua atenção.

"Você é policial?", perguntou um dos dançarinos, enquanto o trem da linha Q avançava em direção a Canal Street. O homem os afastou. Peppermint e Butterscotch ficaram satisfeitos.

"É hora do show!", gritaram. A música encheu o vagão. Pernas envolveram os postes do veículo, como se fossem trepadeiras. E então, uma surpresa: quatro policiais à paisana cercaram os bailarinos e os algemaram.

Aplaudidos pelos turistas, tolerados pelos passageiros habituais e temidos por quem prefere evitar receber um chute no rosto, os dançarinos do metrô acabaram por tornar-se uma das grandes prioridades do Departamento de Polícia de Nova York.

É uma colisão curiosa entre uma abordagem policial típica da era de Giuliani, uma onda de dança da era de Bloomberg e uma nova administração municipal que vê os artistas, em sua maioria de idade escolar, como jovens avatares da desordem urbana.

As detenções de artistas mais que quadruplicaram este ano, chegando a 203 entre janeiro e o início de julho. No mesmo período do ano passado, não passaram de 48.

A atenção aos dançarinos faz parte de uma estratégia mais ampla de policiamento em que, com frequência atendendo a denúncias do público, os policiais enfatizam delitos leves, com a finalidade de atacar os crimes mais sérios.

Defendida há muito tempo pelo comissário de polícia, William J. Bratton, a abordagem atraiu atenção maior em julho após uma série de enfrentamentos com a polícia.

O prefeito Bill de Blasio defendeu a abordagem. "Se você está violando uma lei, entendo por que qualquer nova-iorquino possa achar que talvez não seja um delito sério ou alguma coisa que o incomode pessoalmente", disse o prefeito, ao lado de Bratton. "Mas uma infração é uma infração."

Nos últimos dias a polícia se envolveu em um enfrentamento muito noticiado com personagens fantasiados na Times Square. Um deles era um Homem-Aranha que deu um soco no rosto de um policial.

DELITOS

O metrô está atraindo esforços renovados por parte da polícia. Atendendo a denúncias de passageiros ou funcionários, policiais à paisana se espalham pelos vagões.

Alguns dançarinos se envolveram em discussões acirradas com a polícia. Foi o caso de uma jovem que tentou morder um policial e de um jovem de 18 anos encontrado com uma arma de eletrochoque.

Mas nada indica que os dançarinos tenham ligação com delitos mais sérios no metrô. Um quinto dos detidos este ano tinha mandados de prisão em aberto, disse a polícia, mas poucos por delitos graves. Peppermint, Butterscotch e outros geralmente tinham sido acusados de conduta desordeira ou de colocar a segurança de passageiros em risco.

Muitos dançarinos veem o metrô como um lugar onde podem treinar seus números, na esperança de mais adiante se apresentarem em espaços de mais prestígio, como clubes, casamentos ou espaços ao ar livre.

Mesmo apresentações ao ar livre podem ser um problema: no início de julho, o grupo Waffle (We Are Family for Life Entertainment) foi expulso da Union Square por um policial à paisana.

A repressão incomodou o segundo mais jovem do grupo, o dançarino de break Marc Mack, 8, que sonha em entrar para a polícia. "Quero ser um policial que deixa as pessoas dançar", disse.

É difícil deixar de prestar atenção aos dançarinos. Suas pernas parecem voar. Chapéus giram. Muitas vezes são os turistas ou os novatos na cidade que reagem mais positivamente. As pessoas que vivem em Nova York há mais tempo continuam duvidosas.

"Adoro os dançarinos", disse Szabina Bakos, 26, que nasceu na Hungria, mas vive no Queens. "Gosto de artistas locais", comentou Lilian Galiounghi, 31, de Miami.

"Vivo com medo de que um deles acerte alguém na cabeça", afirmou Joseph J. Lhota, ex-presidente da Autoridade dos Transportes Metropolitanos, vice-prefeito na administração de Rudolph W. Giuliani e veterano usuário do metrô, partindo do Brooklyn.

"Eles são tantos hoje", disse Andrew Saunders, 20, integrante do Waffle, que, diante da repressão policial, praticamente deixou de se apresentar no metrô. "Muita gente pegou o bonde andando."


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