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Crítica - Teoria literária

Nabokov esquadrinha obra de russos em livro cativante

'Lições de Literatura Russa' sintetiza atividades letivas do autor de 'Lolita'

IRÔNICO E POLÊMICO, AUTOR É TÃO INCAPAZ DE SER HUMILDE E IMPARCIAL QUANTO DE SER SUPERFICIAL OU DESINTERESSANTE

IRINEU FRANCO PERPETUO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O autor de um dos mais relevantes romances do século 20 foi também um agudo divulgador e estudioso da cultura de seu país.

O livro "Lições de Literatura Russa", da Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha, sintetiza parte das atividades letivas do escritor Vladimir Nabokov (1899-1977) nos Estados Unidos, antes da consagração de "Lolita".

De família aristocrática, Nabokov deixou o país após a Revolução Bolchevique de 1917 e viveu na Inglaterra, na Alemanha e na França até se radicar na América, em 1940.

Escrevendo fluentemente em inglês e russo, o autor achou na vida acadêmica seu ganha-pão em solo americano, lecionando principalmente na Universidade Cornell e no Wellesley College --uma atividade letiva que ele só abandonaria no final da década de 1950, quando o êxito de "Lolita" lhe garantiu independência financeira.

Em 1981, o editor Fredson Bowers (1905-1991) organizou e publicou em livro, nos Estados Unidos, as anotações das aulas de literatura russa de Nabokov, que agora saem pela primeira vez no Brasil.

Sem esconder o desprezo pela literatura soviética, ele esquadrinha seis escritores: Gógol, Turguêniev, Dostoiévski, Tolstói, Tchékhov e Górki.

PREFERÊNCIAS

A objetividade parece jamais ter sido prioritária para Nabokov e, em uma mescla cativante e provocativa de brilho, erudição e arrogância, ele não esconde as preferências: "Deixando de lado seus precursores Púchkin e Liérmontov, podemos relacionar os maiores autores russos em prosa da seguinte forma: primeiro, Tolstói; segundo, Gógol; terceiro, Tchékhov; quarto, Turguêniev".

Um leitor brasileiro pode estranhar a ausência neste ranking de Dostoiévski, que por aqui não apenas é o mais difundido dos escritores da Rússia como ainda a porta de entrada da literatura do país para muita gente.

Nabokov, porém, não o esquece, deixando-o, como um estudante após um exame de avaliação, "do lado de fora do meu escritório para discutir seus maus resultados".

Gógol, por sua vez, merece um afetuoso estudo (base do livro sobre o autor de "Almas Mortas" que Nabokov publicaria mais tarde), enquanto "Anna Kariênina", de Tolstói, é dissecada em mais de cem páginas, com a pedante meticulosidade de lepidopterologista que, no peculiar universo de Nabokov, é sinal de admiração e amor.

Irônico, polêmico e apaixonado pela literatura, o autor de "Lolita" é tão incapaz de ser humilde e imparcial quanto de ser superficial ou desinteressante. Entre achados iluminadores e diatribes certeiras, sua leitura é um prazer --mesmo quando se discorda dele.


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