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Crítica - Ensaio

Pesquisa original detalha o uso da matemática em dez julgamentos

LUÍS FRANCISCO CARVALHO FILHO COLUNISTA DA FOLHA

Imagine-se, leitor desta resenha, sentado em uma poltrona de avião. Qual a probabilidade do passageiro ao lado fazer aniversário no mesmo dia em que você e morar na mesma rua em que você?

O cálculo da equação levaria em conta diversas variáveis, como o número de datas de possível nascimento (365), de voos diários para a mesma cidade (96), de assentos da aeronave (144), de adultos que moram na mesma rua (3802) etc. Não é necessário ser matemático para concluir que a possibilidade é remotíssima.

Mas poderia acontecer. Os dicionários definem a palavra "acaso" justamente para o que é improvável, imprevisível. Coincidências existem.

"A Matemática nos Tribunais", de Leila Schneps e Coraline Colmez, é uma pesquisa original e assustadora.

Estamos acostumados ao erro judiciário, capaz de condenar inocentes e absolver culpados, por conta de testemunhas confusas ou induzidas pela opinião pública, de álibis não comprovados ou de indícios insignificantes, que, por algum motivo, geraram uma desconfiança, mas a matemática, como mostra o livro, também pode fazer parte da construção da injustiça.

Schneps e Colmez relatam dez casos curiosos, espalhados pelo tempo e pelo mundo, em que, na maioria deles, a utilização dos números, longe de servir para a solução adequada dos julgamentos, funcionou como fator de ocultação da verdade.

O livro apresenta casos dramáticos, como o da prisão de uma mãe suspeita de matar dois filhos na Inglaterra ou de um enfermeira condenada pela morte de pacientes em um hospital holandês, ambas fulminadas judicialmente pela impossibilidade estatística dos acontecimentos.

Também chama a atenção para situações complexas envolvendo o DNA (probabilidade estatisticamente estabelecida para uma ocorrência), que hoje carrega o signo da certeza virtual.

Quando realizado em amostra degradada, parcial ou misturada, o exame de DNA pode gerar muitas controvérsias, que conspiram contra a segurança de veredicto.

O erro não abandona o recinto dos tribunais. Quanto mais sofisticada a investigação, mais sofisticada será a anatomia do próprio engano.


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