Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Militância de mais, cinema de menos

Em edição sem filmes arrebatadores, Festival de Berlim mantém foco em questões políticas mas negligencia o cinema

RODRIGO SALEM ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

O Festival de Cinema de Berlim é conhecido por sua preocupação com temas políticos nos filmes escalados.

A impressão que sua 63ª edição, encerrada anteontem, deixou, no entanto, foi a de um evento focado em assuntos relevantes (identidade social, homossexualidade e corrupção), mas desleixado no que deveria ser o mais importante: o cinema.

Em 2012, obras como "César Deve Morrer", de Paolo e Vitorio Taviani, "O Amante da Rainha", de Nicolaj Arcel, e "A Feiticeira da Guerra", de Kim Nguyen, arrebataram público, crítica e demonstraram grande potencial de carreira no mercado internacional.

Neste ano, nem o vencedor do Urso de Ouro, o romeno "Child's Pose" ("Pose de Criança" em tradução livre), de Calin Peter Netzen, foi recebido com entusiasmo.

O longa conta a história do relacionamento doentio de uma mãe (Luminita Gheorghiu) da classe média alta de Bucareste com o filho Barbu (Bogdan Dumitrache).

Depois que Barbu atropela uma criança de família pobre, ela usa todo seu poder para livrá-lo da prisão.

"A relação dos dois é o mais importante do filme. A política da Romênia é usada como cenário, mas essa situação poderia acontecer em qualquer lugar. Corrupção existe em todos os países", desconversou o cineasta.

SUCESSO LATINO

"Child's Pose" era um dos favoritos ao lado do chileno "Gloria", de Sebastián Lelio.

O filme foi disputado no mercado europeu e comprado para o Brasil pela distribuidora Imovision.

O latino-americano viu as suas chances diminuírem quando a protagonista, Paulina García, levou o Urso de Prata de melhor atriz -a romena Luminita era outra forte concorrente.

"O fato de Paulina ter sido premiada mostra o reconhecimento a todo o filme. Ela está em todas as cenas", exaltou Lelio, criador da personagem divorciada de 58 anos que enche a cara, faz sexo casual, vive pendurada no celular, trabalha sem reclamar e fuma maconha.

O Urso de Prata de melhor ator era uma barbada e reforçou o mote político do festival. O vitorioso foi o bósnio Nazif Mujić, por "An Episode in the Life of an Iron Picker" (Um Episódio na Vida de um Catador de Aço), de Danis Tanovic.

Nazif, um catador de sucatas que vive em uma pequena vila de 200 habitantes, interpreta a si mesmo no semidocumentário sobre a saga de sua mulher (Senada Alimanovic) em busca de ajuda médica.

Tanovic pagou € 2.500 (cerca de R$ 6.500) pelo trabalho do catador, que diz ganhar € 400 (R$ 1.040) a cada três meses para sustentar a esposa e os três filhos -o terceiro nasceu depois das filmagens e foi chamado de Danis em homenagem ao diretor.

"Eu fiz esse filme para mudar a vida deles e espero ter conseguido isso com o prêmio", disse o cineasta, que também levou o grande prêmio do júri, uma espécie de vice-campeonato do festival.

O domínio do leste europeu -o filme cazaque "Harmony Lessons" ("Lições de Harmonia") faturou um Urso de Prata de contribuição artística- só não foi maior porque o americano David Gordon Green surpreendeu ao vencer como melhor diretor por sua comédia "Prince Avalanche".

Gordon Green é cria de Berlim (seu primeiro longa, "George Washington" estreou no festival em 2000), mas ultimamente ganhou fama por produções hollywoodianas de péssimo gosto como "O Babá(ca)" e "Sua Alteza?", ambos de 2011.

"O prêmio mostra que tudo que você precisa é simplicidade do cinema: uma câmera, dois atores e uma equipe fiel", disse ele.

MENÇÃO BRASILEIRA

O Brasil não teve nenhum filme na competição oficial, mas saiu do festival com alguns prêmios de consolação.

O documentário "Hélio Oiticica", de César Oiticica Filho, foi o vencedor da crítica entre os longas exibidos na mostra alternativa Fórum, e também ganhou o troféu Caligari, concedido a filmes experimentais exibidos no festival.

Já o drama "Flores Raras", de Bruno Barreto, foi o segundo filme de melhor votação entre o público da Berlinale, como é chamado o festival, ficando atrás apenas da sensação belga "The Broken Circle Breakdown".


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página