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Moeda virtual vive bolha, dobra de valor e movimenta US$ 1,5 bi
Bitcoins, aceitas como pagamento em serviços on-line, não têm lastro e oscilam com especulação
Estoque de moeda criada há quatro anos por cientista da computação cresce de acordo com cálculos matemáticos
À longa lista de bolhas de ativos -das tulipas ao mercado residencial dos EUA- os historiadores econômicos poderão em breve acrescentar uma moeda virtual chamada bitcoin.
Um frenesi de compra conduziu o valor de mercado total dos bitcoins a mais de
US$ 1,5 bilhão, e o preço de um bitcoin dobrou em duas semanas. Tendo ultrapassado os US$ 100 neste mês, o preço atingiu os US$ 147 no começo da manhã de ontem.
Desvinculado de qualquer ativo real, o preço de um bitcoin é determinado apenas pela especulação em Bolsas de todo o mundo, a maior das quais, a Mt Gox, reportou dificuldades técnicas ontem devido à disparada no interesse pela moeda virtual.
"É como operar tulipas em tempo real", disse Art Cashin, veterano operador de ações do UBS em nota aos clientes.
A moeda foi criada quatro anos atrás por um cientista da computação anônimo, e o estoque limitado de bitcoins cresce de acordo com um algoritmo predeterminado.
Alguns serviços on-line aceitam bitcoins como pagamento, mas o valor da moeda parece menos correlacionado ao seu uso do que a rumores a seu respeito no Twitter, em blogs e na mídia.
Mas o valor do bitcoin já se provou especialmente volátil. Por exemplo, uma disparada em 2011 conduziu o preço por bitcoin de US$ 2 a mais de US$ 30, e logo em seguida veio uma queda brusca.
O mais recente e mais intenso pico de interesse coincidiu com o resgate aos depositantes do Chipre, depois que os defensores do bitcoin o promoveram como alternativa a moedas criadas por governos e passíveis de desvalorização forçada ou confisco.
Alguns empresários do setor financeiro decidiram explorar a oportunidade. A Exante, uma administradora de fundos sediada em Malta, criou um fundo de investimento em bitcoins, como uma espécie de aposta bem-humorada entre investidores.
Investidores entraram com US$ 1.000 cada um para formar o fundo, quando o bitcoin estava cotado a US$ 13, sob o entendimento de que poderiam perder o dinheiro.
Gatis Eglitis, sócio-diretor do fundo, diz que hoje recebe 20 telefonemas diários de administradores de ativos em fundos, e alguns querem investir US$ 100 milhões.
Jim Angel, professor da Escola McDonough de Administração de Empresas, Universidade de Georgetown, encara com ceticismo a viabilidade do bitcoin.
"Os governos não gostam de concorrência no mercado de emissão de moeda, e, se houver crescimento excessivo, a repressão virá."
Tradução de PAULO MIGLIACCI