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Exportadores lideram perdas na Bolsa
Crescimento menor da China e incertezas sobre estímulos nos EUA prejudicaram o desempenho no semestre
Papéis de empresas relacionadas a consumo interno, como bancos e varejo, tiveram perdas menores no período
Ações de empresas ligadas ao mercado externo --como dos setores de mineração, siderurgia e petróleo e gás-- lideraram as perdas da Bolsa no primeiro semestre.
O principal índice do mercado brasileiro, o Ibovespa, teve queda de 22,14% no ano até junho, o pior desempenho semestral desde a segunda metade de 2008, quando estourou a crise financeira global. O índice caiu 42,25% naquele período.
De acordo com analistas ouvidos pela Folha, pesaram contra as ações brasileiras no semestre as perspectivas de crescimento menor que o previsto da China --principal mercado consumidor de matérias-primas do mundo.
Além disso, influenciaram as incertezas em relação ao futuro dos estímulos econômicos nos Estados Unidos.
Se o Banco Central americano cortar mesmo as medidas de incentivo monetário (recompra mensal de US$ 85 bilhões em títulos públicos), a aposta de investidores é que o próximo passo seja o aumento do juro básico do país, atualmente quase zero.
A taxa maior deixaria os títulos do Tesouro dos EUA, considerados de baixo risco, mais atraentes do que aplicações em países emergentes --como a Bolsa brasileira.
"O nosso mercado é bastante dependente de ações ligadas a matérias-primas. Se elas caem, derrubam a Bolsa", diz Gabriel Ribeiro, analista da Um Investimentos.
Na avaliação do especialista, porém, as perspectivas para os setores que mais caíram no semestre são favoráveis.
"A China não vai crescer 10% como vimos no passado, mas não podemos desprezar um avanço em torno de 7%. É muito maior que a média mundial", afirma Ribeiro.
O analista ressalta que o país asiático --principal parceiro comercial do Brasil-- tem uma meta agressiva de urbanização e que sua produção própria de metais e minerais não é suficiente, o que obriga as companhias chinesas a continuarem importando produtos de países exportadores de commodities.
Já William Alves, analista da XP Investimentos, afirma que o preço dos metais na segunda metade do ano pode continuar baixo em função do aumento da oferta global e da redução da demanda internacional.
MERCADO INTERNO
Em relação a setores ligados ao mercado brasileiro, como de consumo e de bancos --que caíram no semestre em menor proporção que os exportadores--, Alves aponta uma vantagem:
"Mesmo em cenário de economia mais fraca, as pessoas não podem deixar de comprar produtos essenciais para a subsistência, como alimentos e vestuário."
O cenário de curto prazo para investimento em ações desses segmentos, afirma o analista da XP, é prejudicado pelo alto endividamento das famílias brasileiras, o aumento de taxa de juros e pela alta do dólar e da inflação.
Mas, no longo prazo, com perspectiva de pelo menos cinco anos, os papéis, que ficaram baratos, podem ser boas oportunidades.
"É preciso garimpar as melhores opções", acrescenta.
VALORIZAÇÃO PONTUAL
Com o mau desempenho semestral deste ano, poucas empresas ficaram na contramão no índice.
Algumas exportadoras, como Embraer e Suzano, foram beneficiadas pontualmente pela valorização do dólar --que aumentou o ganho, em reais, com produtos cuja venda foi fechada em contratos recentes.
O dólar comercial, usado nas operações de empresas brasileiras com o exterior, subiu 7,49% no semestre.
"Muitas dessas empresas estiveram entre os melhores desempenhos no período", diz Gabriel Ribeiro, da Um Investimentos.