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Aos importadores, as batatas

Contra a vontade do governo, consumidores se encantam com as batatas estrangeiras, mais sequinhas, e importação dispara 80% apenas neste ano

TATIANA FREITAS DE SÃO PAULO

O governo tentou, mas não conseguiu barrar a invasão de batatas congeladas no mercado brasileiro.

Neste ano, a importação do produto disparou 80%, mesmo com o imposto de importação em 25% --a alíquota máxima permitida pela Organização Mundial do Comércio é 35%.

As batatas pré-fritas congeladas fazem parte da lista dos cem produtos que, há quase um ano, tiveram o imposto elevado, na tentativa do governo de barrar as importações, estimuladas pelo dólar barato na época.

De outubro de 2012 --quando a alíquota subiu de 14% para 25%-- até agosto, as compras de batatas congeladas do exterior subiram 56% em relação ao acumulado dos 11 meses anteriores.

Foi a segunda maior alta entre os cem itens protegidos pelo governo. Na média, as importações do grupo caíram 11% (leia mais à direita).

"Com o aumento da tarifa, esperava-se uma freada nas importações. Mas, mesmo assim, a Europa manteve o ritmo de vendas e a Argentina aumentou muito os volumes exportados", diz João Paulo Deleo, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

A importação de batatas estrangeiras já é vista como uma tendência no Brasil --daí a motivação do governo na imposição de barreiras às compras. Mas, diretamente, elas ainda não ameaçam o produtor nacional.

O volume de batatas importadas nos últimos 12 meses equivalem a apenas 8% da produção nacional em 2013, estimada pelo IBGE em 3,4 milhões de toneladas.

Para José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), a baixa representatividade das batatas importadas no mercado total não justifica a barreira à importação.

"O volume é muito pequeno para criar atrito gratuito com os exportadores", diz.

Além disso, o alimento importado e o nacional são voltados a mercados distintos.

A batata mais comum no país é menos seca do que as variedades vendidas pela Argentina ou pelos países europeus. É, portanto, menos indicada para frituras.

"É por isso que a batata in natura, quando é frita em casa, muitas vezes fica encharcada de óleo", diz Deleo.

Não por acaso, indústrias, redes de fast-food e os consumidores amantes de batata frita preferem as importadas.

MUDANÇA DE HÁBITOS

Para o pesquisador, mudanças nos hábitos dos consumidores, mais preocupados com a praticidade, continuarão elevando a demanda pela batata industrializada.

Segundo ele, caberá ao produtor nacional acompanhar a tendência e migrar para variedades mais adequadas ao uso industrial.

A Associação dos Bataticultores de Vargem Grande do Sul (SP), por exemplo, já tem estudos para entrar no segmento industrial. Mas segundo Lenoir dos Santos, gerente da entidade, os produtores esbarram em um problema de competitividade.

"O Brasil tem condições de produzir essa batata para a indústria. Mas o custo nos exportadores é muito mais baixo do que o nosso", diz.

Além dos subsídios aos agricultores nos países de origem, ele cita problemas típicos do Brasil, como o alto custo trabalhista.

Como competir com as batatas importadas é difícil, a maioria dos bataticultores prefere continuar no mercado in natura, onde não há concorrência externa. Mas o futuro preocupa. "O consumidor está mudando e nós precisamos acompanhar."

PREÇO ALTO

A queda na oferta da batata nacional neste ano também motivou as importações.

Além da retração de 4% na área plantada --segundo estimativa do IBGE que considera as três safras do ano--, a produção foi prejudicada pelo clima, principalmente no primeiro semestre.

Com a menor disponibilidade do produto, a batata industrializada acabou substituindo a in natura, cujo preço acumula alta de 47% ao consumidor neste ano.

Os valores pagos ao produtor também bateram recorde, atingindo o pico de R$ 200 por saca de 50 quilos no atacado paulista em meados deste ano, segundo o Cepea.


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