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'País errou ao crer em nova ordem econômica'

Para ex-presidente do BC, mudança de política nos EUA pegará Brasil na contramão

MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO

O economista Carlos Geraldo Langoni, 69, ex-presidente do Banco Central (1980-1983), afirma que o governo brasileiro errou em acreditar que o período de juros zero nos EUA, e a consequente abundância de recursos para o Brasil, seria perene.

"O grande equívoco foi acreditar que estávamos diante de uma nova economia", disse Langoni.

Para ele, ainda que não tenha ocorrido nesta semana, a reversão da política monetária americana está a caminho e pegará o país na contramão.

VOLTA À NORMALIDADE

É importante reconhecer que o que estamos discutindo, que parece tão traumático, é a volta à normalidade. Juros nominais próximos de zero são uma aberração econômica e só podem ser justificados em situações excepcionais. Não poderiam durar para sempre. O grande equívoco foi acreditar que estávamos diante de uma nova economia, de uma nova realidade monetária. O Brasil cometeu o grave erro de imaginar que essa situação se alongaria mais do que deveria.

ERRO BRASILEIRO

Com os juros nos EUA próximos de zero, o Brasil passou a imaginar que o juro real [descontada a inflação] abaixo de 2% poderia ser um novo equilíbrio de longo prazo no país.

Isso chegou a ser anunciado pelo governo como uma nova matriz macroeconômica. O Brasil não tem poupança doméstica suficiente para justificar juros tão baixos. Com este fator estrutural e uma inflação mais alta, está havendo uma correção [para cima] inevitável da taxa de juros.

NOVO PATAMAR

O Brasil terá que manter um diferencial entre o juro externo e o juro doméstico para manter o fluxo [de entrada] de capitais positivo, que é fundamental para financiar o nosso deficit em conta-corrente, que é na verdade o complemento da nossa pouca poupança.

NA CONTRAMÃO

Essa redução de liquidez mundial pega o Brasil na contramão, com crescimento ainda frágil e errático. O ambiente externo é de transição e, por isso, de desconfiança em relação ao futuro. Soma-se a isso o componente político, pois já estamos entrando no período eleitoral, o que adiciona um ambiente de incerteza econômica interna e externa.

O Brasil não está numa situação de crise, mas não está tão forte para enfrentar a transição. A crise de 2008 foi mais violenta do que a correção de agora, e, lá atrás, o Brasil estava mais sólido, o que permitiu absorver bem o choque e viver uma recuperação rápida.

O MERCADO VENCEU

Curiosamente, ao contrário do que se dizia, os países onde a economia de mercado funciona bem saíram-se melhor no pós-crise. E talvez nesse sentido o Brasil tenha sido também penalizado, porque neste período aumentou o nível de intervenção do Estado. O saldo dessa estratégia não tem sido muito positivo. Acredito que já esteja havendo uma revisão dentro do governo. Sem a participação do setor privado na infraestrutura, não cresceremos como desejamos.


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