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Seca atrapalha navegação no São Francisco
Problemas crônicos de assoreamento se juntam à diminuição do nível do rio, que passa por pior estiagem em 50 anos
Única empresa que ainda transporta cargas pelo rio ameaça trocá-lo pela rodovia; fundo dos barcos raspa o seu leito
A já limitada navegação no rio São Francisco ficou ainda mais comprometida pela pior seca dos últimos 50 anos na região do semiárido.
Antigos problemas de erosão das margens e de assoreamento somam-se agora à diminuição do nível do rio, expondo rochas ao longo dos 1.579 quilômetros navegáveis.
Por causa disso, a única empresa que ainda transporta cargas pelo São Francisco ameaça trocar o rio pela rodovia, mudança que aumentaria os custos da indústria que depende do caroço de algodão do oeste baiano.
A profundidade média normal no trecho entre as cidades baianas de Ibotirama e Juazeiro é de 2,5 metros, mas, em alguns pontos, está em 1,80 metro, segundo a Ahsfra (Administração da Hidrovia do Rio São Francisco), vinculada ao governo federal.
Nesses trechos, o fundo das embarcações raspa o leito do rio. Os danos nos cascos e nas hélices têm se tornado cada vez mais comuns. Em 2013, por exemplo, uma embarcação naufragou após bater em uma pedra.
De acordo com a empresa Icofort, que transporta caroço de algodão do oeste baiano para Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), das 72 mil toneladas que deveriam ter sido levadas de maio de 2013 a abril de 2014, apenas 23 mil toneladas seguiram pelo rio.
O restante de 49 mil toneladas seguiu de caminhão.
ONDAS ARTIFICIAIS
A viagem de Ibotirama (BA) a Petrolina (PE), antes feita em menos de uma semana, agora leva até 20 dias.
Para passar pelo lago de Sobradinho, na Bahia, é preciso esperar a liberação da água da barragem de modo que as embarcações "surfem" numa onda artificial. Atualmente o reservatório está apenas com 57% de sua capacidade.
Em geral, a empresa fazia 30 viagens por safra no Velho Chico. Na última, foram dez.
"A gente está vivendo um momento crítico. Como você tem grande assoreamento e pouco investimento [na hidrovia], quando vem a seca, a situação fica muito crítica. O que falta é interesse do Estado em sair desse modal rodoviário", afirma Marcelo Teixeira, diretor da Icofort.
Segundo Teixeira, a empresa, que opera na hidrovia desde 2007, avalia deixar o rio, caso o governo federal não o recupere.
A empresa, que produz farelo, óleo e lã de algodão, é a única que ainda atua no São Francisco. A Franave, estatal federal que operava no rio, foi extinta em 2007, com prejuízo que, à época, chegava a R$ 7,8 milhões.
Hoje não há linhas regulares de transporte de passageiros no rio. Há quatro anos, por causa da redução no nível do rio, a agência de turismo que opera uma embarcação para turismo (um catamarã) foi obrigada a extinguir o passeio entre os municípios pernambucanos de Petrolina e Lagoa Grande.
Em alguns trechos, o catamarã tem que reduzir a velocidade para driblar as pedras.