Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mercado

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Marcha ré

Secretária perde vaga e reduz gastos para economizar

Em cenário de inflação alta, família corta supérfluos e descarta compras de bens como TV, carro e geladeira

Mudança de hábitos reflete tendência de queda do consumo das famílias, uma das influências do PIB fraco

INGRID FAGUNDEZ DE SÃO PAULO

Sentados no sofá de sua casa no Jardim Tremembé, zona norte de São Paulo, Maricler e Ubiraci Mendes assistem a uma propaganda de supermercado na TV. "A cerveja em lata está R$ 2,19! E nem é da boa", exclama Ubiraci, ex-marido de Maricler.

Apesar de separados, eles moram na mesma casa com os dois filhos. Ambos reclamam do preço dos alimentos, principalmente do da carne.

Estão revendo as compras semanais para economizar e não planejam trocar TV, fogão e geladeira tão cedo. Tudo isso foi comprado há três anos, quando as reduções de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) tornaram os produtos atrativos.

Aos preços altos se soma a situação de Maricler, secretária-executiva que perdeu o emprego há poucos dias. Ela começou a controlar ainda mais os gastos e não quer assumir compromissos de longo prazo.

As mudanças nos hábitos de Maricler refletem a tendência de queda do consumo das famílias.

Item de maior peso no PIB (Produto Interno Bruto) do país, o consumo cresceu apenas 0,3% no segundo trimestre deste ano, depois de ter encolhido 0,2% nos três meses anteriores.

EX-CONSUMISTA

Maricler, que se considerava "consumista" há dois anos, hoje se diz racional. Depois que foi demitida, passou a cortar as idas ao cinema.

O carro fica na garagem ou estacionado em frente ao metrô, que usa para ir às entrevistas de emprego.

A TV a cabo, usada pelos filhos de 8 e 13 anos, pode ser cancelada em breve. Para ela, o lazer é o primeiro item a riscar das contas, enquanto a alimentação sofre menos.

"Continuo comprando porque preciso comprar. Não vou ficar com um bife de terceira. Gostaria de manter a qualidade."

Apesar de resguardar essa parte dos gastos, diminuiu itens que considera supérfluos, como iogurtes.

A alta nos preços é, normalmente, um dos sinais claros de que a economia não vai bem. Aliada à alta de juros dos empréstimos e à dificuldade de conseguir crédito, ela torna o consumidor menos disposto a gastar.

EMPREGO

A insegurança sobre a manutenção do emprego tem papel importante na redução das compras.

Com 11 anos como secretária-executiva em uma multinacional, Maricler não pensava que a reestruturação da empresa passaria por corte de vagas. Após a demissão, começou a ver que outros setores enxugam postos.

"[A demissão] abalou a estrutura, pegou muita gente desprevenida. Agora é redução pura de contas."

Para ela e Ubiraci, a situação da economia só ficará mais clara no ano que vem, passadas as eleições.

A reportagem pergunta se pensam em trocar de carro. "Claro que não", respondem os dois. "Nem se for usado."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página