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Governo cubano acabará com existência de 2 moedas
Ainda sem prazo, país extinguirá sistema de peso cubano e peso conversível
Moeda 'fraca' é usada para pagar salários da maioria; atrelada ao dólar, a 'forte' circula entre poucos cubanos
Sem detalhes ou prazo, Cuba anunciou ontem o início de um dos mais complexos passos para reformar a economia comunista da ilha: convergir gradualmente em uma só as duas moedas que circulam desde 1994.
O processo excluirá "a utilização de terapias de choque", promete o comunicado do governo, citando palavras do ditador Raúl Castro, no anúncio que apareceu no jornal oficial "Granma" ontem.
Atualmente circulam em Cuba duas moedas: o peso cubano (CUP), com o qual a maior parte da população recebe seus salários e paga por produtos e serviços básicos, equivalente a US$ 0,04 (R$ 0,086); e o peso conversível (CUC), moeda forte equiparada ao dólar (R$ 2,17), que compra tudo o mais, de roupa a acesso à internet.
O sistema foi estabelecido em 1994, quando, no auge da crise pelo fim da aliada União Soviética, a ilha se abriu para o turismo exterior maciço e passou a aceitar o dólar. A moeda americana circulou até 2004, quando voltou a ser proibida. As duas moedas locais, porém, continuaram.
O esquema dual criou, na prática, duas "grandes classes" em Cuba: os que têm acesso à moeda forte (em geral, quem trabalha no turismo ou recebe dinheiro de parentes no exterior) e os que não têm e fazem de tudo para obtê-la --de bicos a vender artigos no mercado negro.
A dualidade também amplifica distorções na contabilidade governamental e nas empresas estatais e mistas (com sócios estrangeiros).
Por causa disso, é uma das mais esperadas "reformas" de Raúl, o irmão de Fidel Castro, que assumiu o poder formalmente em 2008 prometendo "atualizar" o modelo econômico socialista.
Como não se sabem detalhes, é difícil prever impactos imediatos --em processos do tipo, que embutem desvalorização da moeda, a alta da inflação é um efeito comum.
EMPRESAS PRIMEIRO
Em seu comunicado, o governo anuncia que a reforma cambial começará no setor empresarial e produtivo.
Em Cuba, a maior parte da economia está nas mãos do Estado, que também fixa os preços. As empresas têm de trocar dólares e CUCs por pesos cubanos (CUPs) na taxa de um para um, enquanto nas casas de câmbio estatais, para as pessoas físicas, um CUC equivale a 25 CUPs.
O esquema já começou a mudar de maneira experimental em alguns setores, como o açucareiro. Agora, se a empresa açucareira exportar US$ 1 milhão, vai receber do governo 12 milhões de pesos cubanos, e não mais 1 milhão.
A reforma mexe com as expectativas. Yoani Sánchez, blogueira dissidente do regime, afirmou no Twitter que o fim da "esquizofrenia econômica" "é uma das demandas de mudança mais populares entre os cubanos".