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Desvalorização da moeda local é inevitável, avaliam economistas

Governo deve segurar a cotação oficial do bolívar pelo menos até eleição municipal, no entanto

Empresária brasileira relata que não consegue receber pagamento por sapatos que exportou ao comércio venezuelano

PATRÍCIA CAMPOS MELLO DE SÃO PAULO

A indústria de calçados brasileira Piccadilly tem oito lojas na Venezuela. Estão todas vazias.

Desde o início do ano, o representante venezuelano que é dono das lojas não consegue importar os calçados do Brasil, porque só encontra dólares no câmbio paralelo, muito mais caros.

E a Piccadilly ainda aguarda o pagamento de 40 mil pares que exportou para o comércio venezuelano.

"A Venezuela era nosso terceiro maior mercado, mas o governo de lá não libera dólares para a importação de calçados, que, segundo eles, não são prioritários --não mandamos nenhum par de calçados para lá neste ano ", disse à Folha Micheline Griggs, diretora de exportação da Piccadilly.

Ela aposta em mercados no Oriente Médio para compensar a perda. "Estamos na Venezuela há 15 anos, nunca vi a situação tão ruim."

Para muitos economistas, uma nova desvalorização do bolívar, a moeda venezuelana, é inevitável (houve uma desvalorização do câmbio oficial de 46% no último mês de fevereiro).

Mas o presidente Nicolás Maduro não deve fazer isso antes do dia 8 de dezembro, data das eleições municipais, porque seria altamente impopular.

Há pouco mais de dez anos, o então presidente Hugo Chávez instituiu controles estritos sobre o câmbio para impedir fuga de capitais.

Hoje, os dólares oferecidos pelos meios oficiais saem a 6,3 bolívares.

Mas são muito escassos, e a moeda no mercado negro custa quase 11 vezes mais.

Isso em um país que importa cerca de 70% de tudo o que consome.

O governo de Nicolás Maduro determinou que é crime passível de sete anos de prisão simplesmente mencionar a taxa do dólar no mercado paralelo.

Segundo informou reportagem da Folha no mês passado, o atraso nos pagamentos de produtos vendidos ao mercado venezuelano chega a quatro meses.

E o governo brasileiro estaria agora cobrando do país vizinho "calotes temporários" de exportações de empresas brasileiras feitas neste ano.

Neste ano, até outubro, o Brasil exportou para a Venezuela US$ 3,6 bilhões.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) recentemente caracterizou a situação econômica na Venezuela como "insustentável".

"É paradoxal --a Venezuela deve receber US$ 85 bilhões de exportação de petróleo este ano, com o petróleo na cotação média de US$ 100, historicamente alta, e está nessa crise econômica", declara José Manuel Puente, professor do Centro de Políticas Públicas do Iesa, em Caracas.

Muitos economistas acham que as medidas adotadas por Maduro são inúteis, e que a desvalorização será a única maneira de aumentar a produção no país, permitir importação e reduzir escassez de produtos.

Mas o remédio será amargo --uma nova desvalorização deve exacerbar ainda mais a inflação.


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