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País africano tenta se reconstruir após guerra

Costa do Marfim luta para dar emprego a 67 mil ex-combatentes do conflito que derrubou o presidente em 2011

Governo, porém, não consegue absorver essa mão de obra; salário de soldado é de US$ 600, uma fortuna para o país

RAFAEL ARAUJO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ABIDJÃ (COSTA DO MARFIM)

Quase três anos depois do conflito que derrubou Laurent Gbagbo e instalou o presidente eleito Alassane Ouattara no comando do país, a Costa do Marfim tenta dar emprego a cerca de 67 mil ex-combatentes --tanto rebeldes como milicianos-- que participaram da guerra civil na república do oeste africano.

Os insurgentes que, com apoio das forças especiais da antiga metrópole, a França, depuseram Gbagbo e garantiram a posse de Ouattara, em abril de 2011, constituíram a Força Republicana da Costa do Marfim em um dos primeiros atos do novo presidente.

Em agosto do ano passado, a Presidência marfinense criou a ADDR (Autoridade para Desmobilização, Desarmamento e Reintegração) para encontrar saída socioeconômica para os ex-combatentes.

O objetivo de Ouattara é reinserir 30 mil deles até dezembro. Mas o governo não tem capacidade de absorver essa mão de obra, muitas vezes com pouca instrução. Poucos têm a chance de entrar nas Forças Armadas, na Guarda Florestal e na alfândega, que pagam salários de até US$ 600 --fortuna para o padrão nacional, em que o salário mínimo é de US$ 120.

Segundo uma fonte da missão da ONU na Costa do Marfim, o número de desmobilizados está bem aquém do objetivo presidencial, com apenas 12 mil beneficiados pelo programa até fim de outubro.

Para acelerar o processo, o governo criou um programa para os ex-combatentes que já exercem alguma atividade profissional. Eles participaram de um curso de três semanas, que inclui direitos humanos e contabilidade básica, receberam ajuda de custo de US$ 40 e entraram em uma lista de beneficiados.

HISTÓRIAS DA GUERRA

No dia do pagamento da ajuda de custo, uma centena de pessoas se espremia diante do portão principal da direção regional da ADDR em Bouaké, centro do país. Desde as 6h Ami Cheik, 30, uma das poucas mulheres de ex-combatentes, esperava seu nome ser chamado para receber o dinheiro em espécie.

Ami entrou na rebelião por azar: foi surpreendida por soldados em meio a uma viagem ao oeste do país para vender tecidos. Ela e outras mulheres foram obrigadas a trabalhar para a tropa na pior fase do conflito. Em seguida, Ami foi transferida para trabalhar na carceragem da prisão de Bouaké, onde permaneceu até o fim da guerra.

Outro ex-combatente que recebe auxílio do governo é Mamadou Bouna, 48. Ele se salvou, com uma fratura exposta na perna, de uma peça de artilharia que caiu sobre o veículo que conduzia.

Devido à idade e às sequelas do acidente, Mamadou não pôde ser incorporado às Forças Armadas como seu irmão mais novo. Ele ganhou da ADDR um triciclo com caçamba, carteira de habilitação e ajuda de custo para começar vida nova no transporte de pequenas cargas (até 800 kg) na zona urbana.

Muitos não esperam a ajuda do governo. Com uma espingarda no ombro, Yo Doh, 28, faz a segurança de uma das três minas de ouro clandestinas na região de Korhogo, centro-norte do país.

Ele não parece se importar muito com os visitantes --o problema é impedir o contrabando do ouro pelos próprios trabalhadores da mina.

ADEUS ÀS ARMAS?

A Costa do Marfim tem um programa de desarmamento, em que as armas recolhidas (entre elas fuzis AK-47) são avaliadas por especialistas da ONU e incorporadas ao arsenal militar marfinense.

Nem todo tipo é recolhido, porém --é comum ver no interior pessoas portando espingardas de caça. Em geral, são caçadores tradicionais, os dozô. Antigamente, eles eram chamados pelo chefe do vilarejo quando um animal selvagem ameaçava a população; depois, passaram a dar proteção contra assaltos.

Com a precariedade social e a facilidade de obter um fuzil automático, cresceu a insegurança nas estradas. Grupos armados interrompem a passagem, mesmo durante o dia, para assaltar ônibus de passageiros e particulares.

O governo criou um comando equipado com 4 x 4 blindados de fabricação francesa. O problema é que o país continua sob embargo da ONU para aquisição de equipamento militar, e a suposta violação foi alvo de críticas.

A empresa fabricante, Acmat, defendeu-se alegando que os blindados não se destinavam a fins militares.


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