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Até democratas criticam Obama por 'fraqueza' ao lidar com Putin
Governo se defende dizendo que conseguiu criar grande aliança
O confronto entre Obama e Putin não é apenas endereçada ao presidente russo. É uma mensagem ao público americano: a maioria da oposição republicana e mesmo muitos democratas culpam suposta "fraqueza" de Obama pela audácia de Putin.
"Não há consequências quando você desafia o que Obama diz para você fazer", ironizou o senador republicano Lindsay Graham, na semana passada, dizendo que "chegamos ao pior momento desde o fim da Guerra Fria".
Comentaristas dos dois maiores partidos americanos têm ecoado essa opinião na TV americana: depois de ameaçar o ditador sírio Bashar al-Assad, mas não ir adiante, Obama teria "encorajado" outros adversários a ignorar os EUA.
Até altos funcionários do governo disseram, sob anonimato, que o presidente teria errado na maneira como lidou com a Síria e que agora precisa mostrar a Putin "que não está brincando".
Em conversas reservadas com a Folha, diplomatas americanos afirmam que a viagem de Obama pela Europa e seu esforço em convencer europeus, canadenses e japoneses a apoiar a suspensão reforça sua política externa de "criar grandes alianças", ao contrário da doutrina Bush, que teria alienado parceiros históricos.
E que, apesar da mensagem de represália, Obama sabe que precisa de Putin em temas mais caros que a Crimeia, como a solução do caos na Síria e a contenção do programa nuclear do Irã.
"É hora de contenção, de admitir que perdemos a Crimeia, mas de defender o status quo, de que Putin pare por aí", disse um diplomata.
A opinião pública se demonstra dividida. Em pesquisa divulgada na semana passada pelo instituto Pew, 56% não querem "muito envolvimento" e apenas 8% acham que os EUA deveriam pensar em uma "opção militar" como resposta a Putin.
Outros 28% querem uma "posição firme" do país contra a Rússia.
A audácia de Putin também reforça um lucrativo mercado da literatura americana, que aposta no "declínio do império americano".
Livros com títulos como "A Nação Dispensável", "O Mundo Pós-americano" e "Éramos Nós" são best-sellers da era Obama que apostam para um declínio do país e uma ascensão asiática.
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Columbia, Rashid Khalili, "parte da belicosidade reflete certa nostalgia pela Guerra Fria e pela exibição de poder na Presidência de George W. Bush".
"Há uma cegueira sobre os resultados medíocres de toda aquela demonstração de força no Iraque e no Afeganistão", diz.