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Análise Turquia

Premiê turco constrói política inconsistente

Legado de Recep Tayyip Erdogan inclui repressão a contestações sociais e várias derrotas no campo diplomático

O AKP de ErdoGan controla o Executivo e tem maioria no Legislativo. O avanço sobre o Judiciário já está consolidado. São corriqueiras detenções sem acusação formal

HUSSEIN ALI KALOUT ESPECIAL PARA A FOLHA

A Turquia encontra-se num momento crucial de sua história contemporânea.

Com a proximidade do pleito presidencial, em agosto, há um risco real de que as pressões políticas internas e externas existentes possam culminar em retrocesso para a ordem democrática do país.

Há mais de uma década, a ascensão do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, na sigla turca), do premiê Recep Tayyip Erdogan, significou renovação da política turca e produziu avanços na tríade crescimento, desenvolvimento social e consolidação como potência regional.

Contudo, o projeto do AKP, que venceu as últimas três eleições parlamentares, esbarra em contestações importantes. As frequentes manifestações contra o governo emanam das restrições impostas ao Judiciário, à imprensa e aos críticos.

O AKP de Erdo?an controla o Executivo e conta com maioria absoluta no Legislativo. O avanço sobre o Judiciário já está praticamente consolidado, com a sujeição das instituições ao Ministério da Justiça. São corriqueiras detenções e investigações sem acusação formal e por prazo indeterminado.

Na frente externa, a diplomacia de Erdogan cometeu graves erros ao tentar reposicionar a Turquia internacionalmente. Exemplo cabal foi a precipitação em conclamar a deposição do regime sírio em meio a um conflito armado de desfecho incerto.

Além disso, o país viu seu traçado fronteiriço meridional converter-se em plataforma de grupos terroristas, e o apoio à Irmandade Muçulmana no Egito fraturaram as relações com os militares daquele país.

O erdoganismo também afastou a Turquia da Arábia Saudita, como resultado da acirrada disputa pela prevalência do modelo ideológico de governança islâmica.

O Império Otomano foi a maior potência euroasiática até a Primeira Guerra, quando viu seus domínios no Oriente Médio e na Europa Oriental se tornarem independentes ou passarem a mãos europeias. Em 1923, Mustafá Kemal Atatürk, herói dos turcos, foi responsável pela refundação do país na forma republicana atual.

Erdogan dá mostras de dirigir uma política externa com ambições neo-otomanas, em um contexto interno kemaliano. Entretanto, é forçoso constatar que a política de Erdogan peca pela inconsistência, não definindo nem seu raio de atuação: se europeu, meso-oriental, asiático-central ou muçulmano.

Ainda no marco das relações regionais, o posicionamento turco na Síria distanciou também Teerã e Bagdá.

Além disso, o antigo sonho turco de integrar a União Europeia (UE) --postulado desde 1987-- é comprometido pela conjugação de elementos internos e externos.

Entre eles estão o viés autoritário do AKP, a aproximação de Erdogan do russo Vladimir Putin (que, sobretudo no contexto de crise na Ucrânia, produz desconfianças) e a emenda francesa que determina que a adesão de países-membros seja aprovada em um referendo popular.


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