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Região de NY reproduz o conflito político na Ucrânia

Chamada 'Pequena Odessa', área do Brooklyn abriga colônia do país

Lojas de cozinhas russa e ucraniana dominam a cena, mas comunidades mais novas, como as de asiáticos, já se instalam

ISABEL FLECK DE NOVA YORK

Na vitrine de uma loja de souvenires num bairro do Brooklyn, em Nova York, uma bandeira da Ucrânia divide o espaço com uma réplica da camisa da seleção soviética de futebol.

Para o dono da loja, Andrey Abramov, que se diz russo por ter nascido em território ucraniano ainda dominado pelos soviéticos, posicionar os dois produtos lado a lado não significa exatamente um problema.

Assim, ele atende à comunidade de Brighton Beach, bairro apelidado pela grande comunidade ucraniana local de "Pequena Odessa", em referência à cidade litorânea de seu país de origem. São cerca de 20 mil pessoas, ou 20% da população local.

"Vendo as duas bem. Na verdade, as bandeiras tinham se esgotado já no começo da crise, mas achei uma última caixa perdida no estoque", disse Abramov à Folha.

Lá, a comunidade está dividida sobre a situação na Ucrânia. Muitos temem a tentativa de avanço do presidente russo, Vladimir Putin, sobre o território. Outros questionam a pressão de EUA e outras potências ocidentais.

Mas a maioria não quer falar disso. "Barack Obama quer ferrar com a Rússia", se limitou a dizer, em tom exaltado, uma senhora que saiu da Odessa "real" há 14 anos e não quis se identificar.

A maioria dos moradores acompanha as notícias da crise pelas redes de TV americanas e também por canais russos, como RTR e NTV. Muitos ainda têm familiares ou amigos no país.

"É muito difícil ver a situação em que o país está hoje", lamenta Inna, gerente do restaurante Volna, que fica de frente para o mar. "Ver as pessoas brigando entre si. Nesse século, nessa época ainda ter esse tipo de guerra, para mim, não é normal."

Nas ruas de Brighton Beach, que ainda preservam muitos letreiros de lojas em russo, é até difícil encontrar quem fale inglês. Boa parte da população local é composta por idosos, que vieram da república soviética há mais de 25 anos e sempre viveram nessa espécie de gueto.

PERTO DO MAR

A praia do Brooklyn, para Inna, seria uma das razões para que a comunidade escolhesse o local.

Mas, para Yelena Makhnin, 53, que deixou Kiev, a capital ucraniana, em 1992, trazendo os pais para morar Nova York, no entanto, a explicação é "menos romântica". "Quando os judeus ucranianos começaram a chegar, muitos imóveis estavam vazios, e foram feitos acordos que os tornaram baratos para os novos imigrantes", diz.

Hoje, a maioria dos restaurantes ainda é ucraniano ou russo --já que essa diferenciação não é negligenciada só por Abramov--, onde se pode comer tradicionais varenikis (um pastel cozido, com várias opções de recheio) e tomar um kampot (suco).

Mas também já há estabelecimentos árabes e chineses. "Como toda Nova York, Brighton Beach começou a ser ocupada por todo tipo de imigrante", explica Makhnin.

Mesmo tendo visões diferentes sobre o papel da Rússia na crise instalada em seu país de origem, grande parte dos moradores da "Pequena Odessa" colocam parte da culpa nos EUA.

"A Sarah Palin [ex-candidata a vice-presidente], em 2008, já tinha avisado que a Ucrânia seria a próxima vítima de Putin. Os EUA não foram suficientemente duros e acabou dando nisso", opina Makhnin, destacando que Obama deveria endurecer as sanções econômicas impostas contra Moscou.

"Ele tem de ir atrás do dinheiro do Putin, só assim seria capaz de freá-lo."

O fotógrafo Nikolai Khomoshov, 42, também culpa os EUA, mas por tentar "desmantelar o território russo". "A Ucrânia sempre foi parte da Rússia. Somos todos um povo só, falamos a mesma língua, temos a mesma cultura. Os EUA não entendem isso", diz.

Khomoshov acompanha a situação no país com ainda mais apreensão porque seu filho de seis anos, Ronald, voltou a viver com sua mãe na região de Donetsk, uma das mais afetadas pelos recentes confrontos.

"Faz mais de dois meses que não falo com meu filho, não sei como ele está", disse o ucraniano. Mesmo assim, torce para que o filho, como ele, cresça num país que seja parte da Rússia.


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