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Marcos Troyjo

A França e sua 'malaise'

Para fugir de papel cada vez mais coadjuvante, a França busca liderar o debate sobre o que seria uma "UE 2.0"

Basta passar alguns dias na França --e dialogar com algumas mentes brilhantes que esse país ainda produz-- para perceber que nações, como indivíduos, também experimentam crises existenciais. À sombra dos monumentos que tanto amamos, a sociedade francesa é assolada pelo título de uma das maiores obras de Gauguin: "De onde viemos? O que somos? Aonde vamos?"

Os franceses ressentem-se da dívida pública e desemprego que só aumentam. Dividem-se quanto à imigração do Magreb ou da Europa do Leste. Muitos não se reconhecem mais no país em que nasceram.

Jovens doutores não encontram emprego na iniciativa privada. Recorrem à mal remunerada colocação no desestimulante serviço público --totalmente ossificado pelos sindicatos.

Ademais de seus problemas internos, a França peleja com sua posição na União Europeia (UE). Desempenha, no mais das vezes, função de "sócio-junior" em dinâmica cujo epicentro está em Berlim.

Para fugir de papel cada vez mais coadjuvante, a França busca liderar o debate sobre o que seria uma "UE 2.0". Na reunião de cúpula que começa nesta sexta (27) na Bélgica, François Hollande proporá nova estrutura de governança na UE com poderes acrescidos aos países-membros da zona do euro.

A ideia de Hollande, que também vai de encontro a articulações do primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, permitiria a implementação de uma política social e industrial com base no conceito de empresas "campeãs europeias" --à semelhança da estratégia de nosso BNDES e seu (agora abandonado) favoritismo às campeãs nacionais.

Tal medida suscita problemas. Ela diminuiria a influência na comunidade de membros como o Reino Unido, que optaram por não integrar a zona do euro. Esse "novo desenvolvimentismo" europeu feriria potencialmente regras da OMC.

Criaria, de certo, novos obstáculos ao mega-acordo UE-EUA. Retardaria a já esgarçada agenda negociadora UE-Mercosul, cujo conclusão, mesmo sem as novas ideias de Hollande, não se cogita para 2014.

Resta ainda observar como a Alemanha, maior economia da região, reagirá à institucionalização de subsídios industriais para fortalecer conglomerados europeus. As competitivas empresas alemãs dispensam tal fortificante. Sua produtividade beneficiou-se nas últimas décadas da existência de moeda comum para o comércio intraeuropeu.

Berlim não deseja, ademais, estranhar-se com países que não aderiram à zona do euro. Quer ainda que os acordos com EUA e Mercosul saiam do papel.

Como parece correta a noção de que hoje nada se faz em Bruxelas sem a liderança alemã, resta saber como Hollande lidaria com mais uma iniciativa frustrada.

Aliás, a frustração com Hollande, detentor de abissais 18% de aprovação popular, muito contribui à atual malaise' francesa. Ouvi de um editor do "Figaro", o jornalão francês, que todo presidente de seu país, de De Gaulle a Sarkozy, sempre dispôs de inteligência abundante ou charme gálico. E que Hollande, mais impopular presidente da história da França, carece de ambos.


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