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Cidade Fantasma

Sob controle de separatistas, a ucraniana Donetsk perde apelo econômico e sucumbe ao caos

LEANDRO COLON ENVIADO ESPECIAL A DONETSK

Avenidas vazias, lojas e restaurantes fechados, obras paralisadas, moradores perdendo empregos, outros com salários suspensos. E muita gente deixando a cidade.

O controle por forças separatistas pró-Rússia, diante da inoperância do governo ucraniano, tirou muito mais que a paz dos que vivem na cidade de Donetsk, capital da região administrativa de mesmo nome, até então uma das mais ricas da Ucrânia.

Na quarta-feira (23), às 11h30, estavam vazios os acessos ao shopping Donetsk City, que fechou as portas até agosto, assim como os luxuosos restaurantes e grifes da mesma avenida.

Ao lado, está suspensa a construção de luxuosos prédios residenciais. Uma placa avisa: em caso de bombardeio, há um abrigo por perto. Na outra ponta da avenida fica a praça Lênin, que agora, pela manhã ou à tarde, também não tem ninguém.

À noite, ninguém arrisca sair com medo do conflito entre os separatistas e as forças de Kiev que já matou quase 500 pessoas --sem contar os 298 passageiros do Boeing da Malaysia Airlines que teria sido abatido pelos rebeldes.

Resultado: segundo as autoridades locais, ao menos 30 mil pessoas já deixaram a cidade desde o início do conflito, em março deste ano.

E centenas se aglomeram todos os dias na estação central de trem em busca de um bilhete para algum lugar --na Ucrânia ou na Rússia. Entre elas está Ksenia, 24, que vai para Moscou. "Não temos saída", diz a mãe, Marina, 54, ao se despedir. Sobrenome? "Não dou, não é seguro."

Até agora, ao menos 12% dos negócios de Donetsk fecharam, de acordo com dados da prefeitura, e 8.200 vagas de empregos foram extintas. Algumas empresas preferiram pedir para os funcionários trabalharem de casa.

Os caixas eletrônicos começam a se esvaziar, e os supermercados temem o inverno, com o aeroporto fechado e as estradas bloqueadas. Um dos mais famosos hotéis, o Ramada, fechou um de seus dois restaurantes e cortou os garçons de 36 para 5.

PROMESSA

Em 2012, a revista "Forbes" apontou Donetsk como a melhor cidade da Ucrânia para negócios. Suas credenciais eram invejáveis: 1 milhão de habitantes, com alto poder de compra, investimentos, estabilidade econômica, conforto e infraestrutura.

Uma economia com 200 grandes indústrias, 20 mil empresas de pequeno e médio porte, produção de € 3 bilhões (R$ 9 bilhões) ao ano.

A indústria do aço e do carvão ajudou a alavancar a região, que foi praticamente destruída pelos alemães na Segunda Guerra Mundial.

Nos últimos 18 anos, construiu-se ali uma potência do futebol local: o Shakhtar (mineiro, em ucraniano), comprado pelo bilionário Rinat Akhmetov em 1996 --um fã do futebol brasileiro.

O cenário começou a mudar com a derrubada de Viktor Yanukovich da Presidência ucraniana, em fevereiro. Donetsk, onde cerca de 75% da população fala russo, votara em peso nele.

Os separatistas reagiram à queda tomando o controle da cidade, inclusive do prédio do governo local. A fragilidade de reação do governo colaborou para transformar Donetsk em um caos.

Resta a esperança de que a Rússia comece a ajudá-los financeiramente, em algum momento.


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