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Chanceler cancela encontro com secretário dos EUA de última hora
Luiz Alberto Figueiredo desmarcou conversa com John Kerry e voltou às pressas para Brasília
Folha apurou que ele teria sido chamado para gerenciar repercussão de fala de Dilma sobre Estado Islâmico
O chanceler do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, cancelou repentinamente um encontro bilateral que teria nesta sexta-feira (26) com o secretário de Estado americano, John Kerry, e retornou para o Brasil, surpreendendo até integrantes de sua equipe.
Segundo a Folha apurou, a presidente Dilma Rousseff determinou que Figueiredo voltasse imediatamente ao Brasil para lidar com as repercussões do discurso da presidente na ONU e a entrevista concedida por ela no mesmo dia, que viraram alvo de ataques eleitorais.
Em seu discurso na abertura da Assembleia-Geral da ONU, Dilma criticou o uso de intervenções militares para lidar com os conflitos na Síria e Iraque. "A cada intervenção militar não caminhamos para a paz mas, sim, assistimos ao acirramento desses conflitos". Depois, em entrevista, disse que as intervenções não resolvem o problema e "o melhor caminho para construir a paz é sempre o diálogo e a diplomacia".
A fala foi uma resposta ao presidente americano, Barack Obama, que defendera na ONU os bombardeios contra o Estado Islâmico pela coalizão liderada pelos EUA e afirmara que "a única língua entendida por esses assassinos é a força".
Mas a declaração de Dilma virou munição para a oposição. "A presidente propõe diálogo com um grupo [EI] que está decapitando pessoas", disse o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves.
Já no Brasil, o ministro Luiz Alberto Figueiredo afirmou à Folha que teve de retornar por causa de uma mudança de agenda, mas não especificou qual. "A reunião bilateral com o secretário Kerry será remarcada, não foi nada fora do normal; é muito comum em agenda de ministro ter de mudar compromissos", afirmou.
Em entrevista a blogueiros progressistas, Dilma continuou em seu modo "contenção de danos": negou ter defendido diálogo com o EI (leia mais nesta página).
No início da noite de quinta, o ministro havia confirmado a reunião com Kerry a jornalistas brasileiros, para tratar de uma "agenda de ONU e de questões normais do relacionamento bilateral".
Menos de cinco horas depois, ele já havia embarcado de volta para o Brasil. Uma fonte diplomática disse que assessores do Itamaraty compraram sua passagem de volta às pressas, na noite de quinta.
Uma fonte do Departamento de Estado confirmou à Folha que a decisão de cancelar o encontro --previsto para a tarde-- partiu do chanceler brasileiro.
Oficialmente, o Itamaraty afirma que Figueiredo voltou para o Brasil para coordenar uma reunião interna e assinar protocolos e documentos que precisavam ser despachados ainda nesta semana.
Nesta sexta-feira, a subsecretária de Estado para o Hemisfério Ocidental (Américas), Roberta Jacobson, disse que o governo americano tem "esperança" de que o Brasil assuma um papel na luta contra o EI em áreas como a ajuda humanitária, financeira e para evitar o recrutamento de combatentes.
"Um país tão grande e importante como o Brasil, definitivamente tem um papel a desempenhar aqui e pode ajudar muito", disse.