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Depoimento

Paranoia me deixou horas parado num avião nos EUA

RODRIGO SALEM COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE LOS ANGELES

O clima de paranoia em relação ao ebola já chegou à aviação norte-americana. Na manhã de domingo (12), embarquei do aeroporto JFK, em Nova York, no voo United 703, para Los Angeles.

Por volta das 12h30, a aeromoça começou a perguntar se havia médico a bordo. Em seguida, o banheiro traseiro da aeronave foi trancado -- "problemas técnicos".

Chegamos ao destino antes do previsto, às 14h. Não parecia haver nada anormal no voo, mas, ao nos aproximarmos do terminal doméstico da United, vi cinco carros de bombeiros e duas ambulâncias vindo em nossa direção. Algo estava errado.

Foi quando a confusão começou. Fomos avisados que havia uma emergência médica e que não poderíamos sair do avião enquanto "os agentes" não "falassem o procedimento adequado". Meia hora depois, o piloto nos avisou que precisaria levar o avião para o desembarque internacional. Uma hora depois, para um hangar.

Não era um hangar, mas um pequeno terminal isolado. O piloto finalmente avisou "que um dos passageiros teve contato com alguém da África".

Em nenhum momento a palavra ebola foi pronunciada. Mas não é preciso ver muito filme americano para saber que estávamos em um avião com um suspeito.

Entre a descoberta da suspeita e nossa chegada ao terminal de emergência, foram quatro horas. Parecia que ninguém sabia o que fazer, discutindo o curso da ação naquele momento -- ficamos mais duas horas parados.

O despreparo das autoridades ficou mais evidente quando o piloto anunciou: "Parece que há uma briga entre as agências governamentais para saber quem lida com a situação." Pronto, eu estava em um thriller B de Hollywood.

Quando as autoridades finalmente decidiram quem mandava mais, aeromoças com pequenas máscaras na face, em vez de mascarados entrando no avião, retiraram uma garota oriental do fundo do avião, que havia passado mal durante o voo.

Meia hora após levar a passageira, o piloto anunciou que tudo não passava de uma "precaução", que todo mundo estava liberado sem problemas e que haveria "acompanhamento psicológico" para quem desejasse.

O avião inteiro gargalhou. Não sei se foi com a oferta inusitada ou com o alívio do final feliz.

A garota que havia passado mal esteve sim na África, mas na África do Sul, país que não registrou casos de ebola.

Fui pegar uma van grátis para um hotel da região. No caminho, um casal jovem com bebê no colo começou a conversar sobre a experiência comigo e dois idosos.

Do outro lado do micro-ônibus, um senhor ouviu a conversa e começou a berrar: "Jesus, estamos todos ferrados!" A mãe que segurava o neném tentou explicar que havia sido um alarme falso, mas o sujeito ficou descontrolado. "Sempre é alarme falso! É assim que essas coisas se espalham!".

Por sorte, o hotel era apenas a três minutos do aeroporto. Mas todos saíram do ônibus mais nervosos com a reação do homem do que após o desembarque do avião. Medo, pelo visto, se espalha mais fácil que o ebola.


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