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Transição chinesa

"Dilema chinês é promover mudanças"

Para o sinólogo britânico Jonathan Fenby, nova liderança do PC terá como desafio mexer em áreas complexas

Analista avalia que, no entanto, a confirmação da nova cúpula do PC deixa pouco espaço para modificações

FABIANO MAISONNAVE DE PEQUIM

Sem perspectivas de reformas, a nova liderança chinesa tem o desafio de promover mudanças em áreas complexas, como corrupção e bem-estar social, sem alterar o atual regime político, avalia o sinólogo britânico Jonathan Fenby, 70.

Autor de seis livros sobre a China, entre os quais o mais recente é "Tiger Head, Snake Tail" (cabeça de tigre, rabo de cobra, em tradução livre), Fenby trabalha na consultoria Trusted Sources, especializada em mercados emergentes. A seguir, a entrevista concedida à Folha anteontem, em Pequim.

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Folha - O que esperar da nova liderança chinesa?

Jonathan Fenby - Já conhecíamos dois membros que pertenciam ao Comitê Permanente [o novo secretário-geral, Xi Jinping, e o futuro premiê, Li Keqiang], a questão, agora, é sobre os outros cinco [integrantes].

A minha primeira reação é que as duas pessoas que poderiam ser identificadas como reformistas entre os candidatos não conseguiram assentos. O comitê caiu de nove para sete membros, e os dois que ficaram de fora foram esses reformistas.

Portanto, os outros são pessoas de confiança, que já participaram do Politburo [corpo logo abaixo do comitê, com 25 membros] e já tiveram vários postos. Eu não diria que todos sejam ideólogos conservadores linha-dura, mas não são pessoas que se destacam em favor de mudanças ou de reforma.

A ausência de reformistas foi interpretada como uma derrota do presidente Hu Jintao, mas o seu discurso de despedida também foi considerado bastante conservador.

Ele disse: "Precisamos fazer algumas mudanças, mas não vamos mudar o sistema". Essa é a questão: eles sabem da necessidade de mudanças.

Xi Jinping -que, em sua declaração aos jornalistas, foi muito mais humano do que Hu Jintao, que sempre parece estar lendo um relatório- disse que é preciso enfrentar as preocupações da população sobre o bem-estar social, saúde, educação, empregos, ambiente etc.

Também disse que é preciso lidar com a corrupção e a burocratização para fortalecer o partido. Mas não houve nenhum sinal de mudança no sistema. Em outras palavras, você pode ter o tipo de mudanças necessárias para a China sem modificar a estrutura do sistema político?

Sobre a corrupção, o partido escolheu Wang Qishan, um experiente negociador comercial, no departamento de fiscalização. Há quem diga que ele saiu perdendo, pois se esperava dele um papel maior na economia. Outros, porém, avaliam que ele fortalecerá o combate à corrupção. Qual é a leitura correta?

Caso ele se tornasse um "czar econômico", poderia se tornar uma sombra para Li Keqiang [cotado para premiê]. Houve uma semelhança nos anos 1990, quando Li Peng era o premiê, mas Zhu Rongji foi colocado basicamente para reformar a economia.

Mas acho que eles estão levando a sério o problema da corrupção. Precisam fazer algo a respeito. Wang tem a reputação de ser um operador duro.

Se ele tiver o apoio de outros membros do Politburo, poderá ser mais ativo no comando de uma ofensiva anticorrupção e disciplinadora.

Um ataque à corrupção poderia se voltar contra pessoas de alto nível hierárquico e não pode ser visto pelas pessoas como motivado por razões políticas. Tem uma piada que ouvi, não sei se é verdade, mas que deram esse trabalho a Wang porque ele não tem filhos.

Há outras mudanças mais prováveis?

Só teremos uma ideia mais clara sobre para onde a China está indo na conferência econômica de 10 de dezembro, e, depois, no Congresso Nacional do Povo [em março].

Mas um desafio importante para a nova liderança é a evolução social da China.

Por que o Comitê Permanente ficou reduzido de nove para sete membros?

Se eles querem fazer coisas, um grupo menor de pessoas é mais coeso. Eles vão continuar o governo de consenso que vem do governo Hu Jintao.

Com menos pessoas na mesa, a decisão deverá sair mais fácil. Mas o efeito disso é que, quando a música parou, as cadeiras dos mais liberais não estavam lá.

E a questão é: isso significa, logo depois do caso Bo Xilai, uma conformação ao centro, e todos assentindo juntos, sem discussão de políticas? A questão é até onde eles poderão ir.

Se você compara com países como o Brasil ou a eleição norte-americana, com todas as falhas, você de fato tem uma discussão de políticas. O que falta na China é um debate sobre o que deve ser feito.

A saída de Hu Jintao do comando militar é positiva?

É uma interrupção boa. Se ele tivesse ficado, teria havido especulações sem fim. Acho que Hu Jintao disse: "Está terminado". Ele provavelmente está muito cansado e é hora de sair com honra.

Qual sua impressão sobre as primeiras palavras de Xi?

Ele é muito mais direto, e não uma máquina, como vimos antes. Ouvi sua fala ao lado de chineses, e todos ficaram muito impressionados com o tom diferente.


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