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Planalto afirma que dossiê contra cubana foi destruído
Assessor da Presidência teria recebido denúncias contra dissidente Yoani Sánchez
Segurança de blogueira é reforçada depois de ato na Bahia barrar filme; tática de manifestantes é 'terrorista', disse ela
Um CD entregue a um funcionário da Presidência dentro da Embaixada de Cuba foi destruído assim que ele soube que incluía um dossiê sobre a blogueira dissidente cubana Yoani Sánchez, 37.
A informação foi dada ontem à Folha pela Secretaria-Geral do Planalto, onde Ricardo Poppi, que recebeu o material, está lotado como coordenador de Novas Mídias.
É a terceira explicação que o órgão apresenta em quatro dias sobre a presença de Poppi em reunião na embaixada cubana, no último dia 6, revelada pela revista "Veja". Na reunião foi discutida a vinda da blogueira ao país.
No sábado, 16, o órgão afirmou "não ter sido informado" sobre a participação de Poppi em reunião na embaixada "nos termos relatados".
Na primeira nota, a secretaria também não citou o CD com um dossiê contra Sánchez, envolvendo acusações de ligação com o governo dos EUA. A blogueira é chamada de "mercenária" por manifestantes pró-ditadura cubana.
Anteontem, o órgão admitiu a participação do servidor na reunião, mas afirmou que ela se deu por coincidência, já que ele estava na embaixada para retirar um visto. Nessa segunda nota, o governo diz que Poppi recebeu o CD, mas "não fez qualquer uso".
Ontem, questionado pela Folha sobre a eventual apresentação do CD aos superiores de Poppi, o órgão informou que o CD foi "destruído" com uma tesoura. Segundo a assessoria, as informações foram dadas pelo servidor e consideradas fidedignas.
A Folha tentou falar diretamente com Poppi, mas ele não respondeu aos contatos por telefone e e-mail. Ontem, PSDB e PPS divulgaram notas em defesa de Sánchez.
SEGURANÇA REFORÇADA
Um dia depois de protestos de integrantes de movimentos sociais e partidos como PT e PC do B impedirem a exibição do documentário do qual Sánchez participa, em Feira de Santana (BA), a blogueira teve sua segurança reforçada.
Dois seguranças privados se somaram aos dois já contratados por seus anfitriões (jornalistas e políticos locais) e, a pedido do prefeito José Ronaldo Carvalho (DEM), policiais militares passaram a acompanhá-la.
A dissidente agradeceu pelo reforço e lamentou que o evento de anteontem tenha se tornado uma "situação de risco físico".
Ela cancelou duas visitas culturais na cidade, alegando falta de tempo.
Em Feira de Santana, a blogueira debateu com militantes pró-governo de Cuba diante de mais de 2.000 pessoas.
Logo na sua chegada, um dos chefes da segurança do evento, num espaço do grupo educacional Nobre, avisou à comitiva de Sánchez: "Já falamos com os manifestantes. Temos um grupo [de segurança] ostensivo e se preciso vamos usar a força". Não houve motivos de embate.
Por pouco mais de uma hora, a ativista discursou e respondeu a perguntas e questionamentos exaltados de integrantes de movimentos sociais e estudantes ligados ao PSOL e ao PT.
O clima foi acalorado, mas bastante distinto da noite anterior, quando manifestantes, aos gritos, tumultuaram e acabaram impedindo a exibição do filme "Conexão Cuba > Honduras", do cineasta baiano Dado Galvão, um dos promotores da visita de Sánchez à cidade. (BRENO COSTA, FLÁVIA FOREQUE, FLÁVIA MARREIRO E MÁRIO BITTENCOURT)