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Templo da balada em Ibiza passa por reestruturação

Por ALEXEI BARRIONUEVO e BEN SISARIO

A boate Pacha domina o célebre cenário das baladas de Ibiza desde a década de 1970. Construída sobre um antigo pântano da ilha espanhola, a casa noturna tornou-se um símbolo global de glamour hedonista, e o negócio se ampliou para Buenos Aires, Nova York e outros lugares.

Ultimamente, os lucros da Pacha dispararam junto com a crescente popularidade da música eletrônica dançante. Mas o mesmo aconteceu com os cachês cobrados por DJs de primeira linha, para desgosto do patriarca da Pacha, Ricardo Urgell, 75, que comanda a casa como uma empresa familiar. No ano passado, ele decidiu dar um basta nessa situação.

Ele demitiu seu diretor musical de longa data, Danny Whittle, e não renovou o contrato de Erick Morillo, presença regular na Pacha por mais de uma década. Outros DJs famosos também saíram, como Tiësto, Luciano e Pete Tong. Só um nome famoso, David Guetta, voltará no próximo verão.

"Os DJs queriam mais dinheiro para tocar menos", disse José "Piti" Urgell, 65, irmão de Ricardo. "Era um abuso. Precisamos encontrar um novo plano."

A atitude dos irmãos Urgell reflete um crescente atrito na subcultura dance que está atrelado à popularização do gênero. DJs superastros agora cobram centenas de milhares de dólares por noite em megaclubes de Ibiza e Las Vegas, onde antes tocavam anonimamente.

Tiësto, talvez o mais popular DJ do mundo, está deixando Ibiza de lado no próximo verão. Mas sua turnê mundial inclui a Hakkasan Las Vegas, com 7.400 m2, boate que abre neste mês depois de custar estimados US$ 100 milhões.

"Toquei nos últimos dez verões em Ibiza e senti que era hora de uma mudança", disse Tiësto por meio de um agente.

Os irmãos Urgell dizem ansiar por uma volta dos tempos mais simples, quando a casa não era comandada pelo dinheiro.

Ricardo Urgell, filho de um engenheiro de Barcelona, construiu a Pacha no começo da década de 1970 em um terreno desolado que ele adquirira por US$ 14 mil.

Após a inauguração, em 1973, o clube passou a representar uma boemia sofisticada e uma fuga do conservador código moral da ditadura de Francisco Franco. Os nativos de Ibiza se misturavam a artistas, hippies e ladrões foragidos.

Mas a cena cresceu, e os Urgells se desencantaram da música que os tornou milionários."É um som monótono e corpos se espremendo", disse Ricardo em 2011.

A música eletrônica, afirmou Piti em março, "não evoluiu nos últimos 20 anos e é para idiotas".

Os Urgells dizem que as coisas começaram a mudar após 1999, quando o filho mais velho de Ricardo, Hugo, contratou Whittle, um ex-bombeiro britânico que organizava raves. Whittle lançou um selo fonográfico e uma revista e contratou DJs "top", como Guetta e Fatboy Slim.

As mudanças deram mais visibilidade à Pacha, mas os Urgells não gostaram quando Whittle começou a autorizar que DJs da Pacha tocassem em festas vespertinas na piscina do Ushuaïa Beach Hotel, inspiradas no que acontecia em Miami e em Las Vegas. "A questão é: o que está levando as pessoas para longe de Ibiza? É Las Vegas", disse Whittle.

É difícil ignorar a economia da balada. A Pacha Ibiza, com capacidade em torno de 3.000 pessoas, faturou mais de € 30 milhões (cerca de US$ 40 milhões) no verão passado, bem acima dos € 7 milhões em 1999. A Pacha chegou a pagar mais de € 100 mil (US$ 130 mil) por noite a algumas atrações, ainda que essas mesmas atrações tenham gerado o triplo desse valor em faturamento.

"Isso vai lhes custar uma fortuna", disse Whittle sobre o redirecionamento da Pacha.

É possível que os Urgells estejam desencanados. No próximo verão europeu, eles vão trazer atrações "mais alternativas", como o DJ israelense Guy Gerber, 38, que assumirá o lugar de Morillo às quartas. Ele prometeu bandas independentes, mágicos, uma máquina de adivinhações do futuro e talvez um manipulador de marionetes em seu espetáculo semanal, o "Wisdom of the Glove". "Eu estou tentando criar uma noite para trazer Ibiza de volta ao que ela era 30 anos atrás", disse Gerber.


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