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San Cristóbal de Las Casas Journal

Curador dispensa recompensas

Por ELISABETH MALKIN

SAN CRISTÓBAL DE LAS CASAS, México - Toda manhã, Sergio Castro cruza a cidade em zigue-zague e trava lutas a portas fechadas.

Diego Raúl López Sánchez, um de seus pacientes, estava deitado em uma cama num quarto de cimento. Um acidente de motocicleta alguns meses atrás o deixou paralisado do pescoço para baixo. As escaras marcam seu corpo.

Castro limpou e enfaixou a pele ferida enquanto murmurava para ele. Deu conselhos à mulher de López, que parecia atordoada de desespero.

Ele voltaria no dia seguinte.

Nem médico nem padre, Castro, 72, preenche um dos inúmeros buracos na rede de segurança do México. Essa rede é ainda mais deficiente aqui, no Estado sulino de Chiapas, do que em praticamente qualquer outro lugar do país.

Na última década, o México expandiu o acesso aos serviços médicos, enquanto governos sucessivos aumentaram os gastos para alcançar a meta distante da cobertura de saúde universal.

Mas o tipo de cuidado intensivo que Castro presta está além do âmbito dos centros de saúde rudimentares do interior do país ou do Hospital de Las Culturas, hospital comunitário que foi aberto aqui há três anos.

Dom Sergio, como as pessoas o chamam, passa grande parte do tempo limpando e tratando ferimentos causados por queimaduras ou diabetes.

Ele não aceita dinheiro de seus pacientes, porque "assim eles podem ficar tranquilos e ter mais motivação para sarar", disse.

"A capacidade, o dom que Deus me deu de fazer isso, é o que me dá resultados", disse ele.

Quando ele consegue doações suficientes para seu sustento -inclusive de americanos que vivem no México-, ele ajuda as aldeias a construir escolas e tratar a água.

Castro atende pacientes todas as tardes em uma pequena casa que serve, ao mesmo tempo, de clínica e museu de roupas, máscaras e esculturas indígenas.

Muitos de seus pacientes são maias dos planaltos ao redor, que estão entre os cidadãos mais marginalizados do México.

Víctor Jiménez Vicente, 29, chegou recentemente de muletas.

Ele estava com o pé inchado e com uma ferida aberta em sua perna, de uma queimadura de mais de dez anos que nunca foi tratada adequadamente.

Castro disse ao jovem e a seu pai que suspeitava que a perna teria de ser amputada e recomendou que eles fossem ao hospital.

Mas essa ideia ficou em sua cabeça depois que eles saíram. "Não posso simplesmente mandá-los embora e esquecer", disse.

A pobreza, a má administração e a negligência ampliam as complexidades de tratar doenças em Chiapas. Muitas pessoas não recebem qualquer tratamento preventivo.

Ou, quando recebem, "a capacidade dos serviços é muito limitada e sua qualidade muito deficiente", disse o doutor Héctor Ochoa, diretor do grupo de pesquisa de saúde na Faculdade da Fronteira Sul, daqui.

Originalmente do norte do México, Castro chegou há quase meio século para trabalhar como agrônomo e veterinário. Rapidamente começou a tratar os cortes de machado e as queimaduras que via enquanto percorria as aldeias.

A tarefa de Castro tornou-se muito mais complexa. Hoje ele cuida de um número crescente de doentes de diabetes.

"Não fazemos milagres, mas curamos", disse ele. "Não perdemos a coragem."

Na casa superlotada de César Morales, 59, que ficou cego há seis anos por causa da diabetes, Castro foi recebido como um velho amigo. Ele tratou uma úlcera infeccionada na perna de Morales.

"Fico muito triste quando vejo alguém sofrendo", disse ele.


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