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Ensaio - Michael Kimmelman

Vinícola resgata paisagem toscana

BARGINO, Itália - A Itália é bela, mas teve um desenvolvimento insensato. Grandes extensões não planejadas de shoppings, fábricas e conjuntos habitacionais, muitos dos anos 1960 e 1970, espalham-se pelo campo. Florença, a cerca de 20 quilômetros daqui, começou anos atrás a se converter numa confusão de subúrbios desorganizados. Cidades vizinhas acrescentaram parques industriais a seus centros históricos.

Conservacionistas restringiram algumas das piores obras, impondo normas de zoneamento mais rígidas. Mas a manufatura e a construção são responsáveis por quase um quarto da economia toscana. Os feios parques industriais garantem empregos. Como, então, deveria ser a cara do crescimento inteligente na região?

Uma resposta é oferecida pela Cantina Antinori. Olhando da rodovia, é fácil deixar de perceber a nova sede que a empresa florentina Archea criou para a Antinori, prestigiosa vinícola italiana.

A construção se esconde em plena vista, enterrada (literalmente) numa encosta de morro. A arquitetura não se limita a ocupar a paisagem -ela se converte na paisagem. O terraço panorâmico é sombreado por uma cobertura curva em cantiléver, parcialmente camuflada por fileiras de videiras.

Lá dentro, o lugar revela ser uma obra de design contemporâneo, elevada e cheia de luz.

Com área de 50 mil metros quadrados, a sede da vinícola, aberta ao público desde a primavera europeia deste ano, inclui a fábrica de vinho, um auditório com 200 lugares, um museu, um restaurante e uma loja. A construção, que levou quase dez anos para ser concluída e custou cerca de US$ 110 milhões, desdobra-se em uma série de surpresas. Uma entrada sinuosa deixa os visitantes num estacionamento no subsolo. A luz penetra no local através de cortes circulares no telhado.

A partir do estacionamento, o visitante sobe a escadaria espiralada feita de aço cor de ferrugem, ascendendo sinuosamente como uma faixa de casca de laranja. Passando por um dos cortes grandes, emerge no terraço, que tem quase 109 metros e ecoa os contornos do terreno. O terraço e a cobertura formam uma espécie de traço que atravessa o topo da colina, a partir da qual a paisagem se abre completamente.

Do outro lado de uma parede de vidro de dois andares de altura, estão os escritórios, o museu, a loja e as salas de degustação, que se projetam sobre as adegas. Estas são várias caves grandes e sombrias como catedrais -espaços espetaculares esculpidos no morro. Os detalhes de cantos, curvas e beiradas são nítidos e limpos em todo lugar. Um complexo de fábrica e escritório não precisa ser uma construção barata e quadrada de vidro espelhado nem uma mansão renascentista reformada. Pode ser uma obra de Arquitetura com "a" maiúsculo.

A família Antinori produz vinho há 26 gerações, e hoje a Antinori é grande exportadora. Os Antinori ocupam desde 1506 um dos grandes palácios de Florença, criado por Giuliano da Maiano. O patriarca atual da família, Piero Antinori, hoje na casa dos 80 anos, primeiro contratou uma empresa local de engenharia para projetar uma fábrica e depois chamou a Archea para criar uma fachada para a fábrica. M

as os arquitetos da Archea rejeitaram a proposta.

"Esse é o nosso petróleo", foi a reação de Marco Casamonti, fundador da Archea e o responsável pelo projeto da Antinori.

Ele quis dizer que a grande riqueza cultural e econômica da região é sua combinação de paisagem e arquitetura. O desenvolvimento urbano impensado tinha enfraquecido essa riqueza nessa parte da Toscana.

Desde que foi inaugurado, o projeto já atraiu milhares de pessoas, entre elas muitos arquitetos. A construção combina perfeitamente com a beleza da região, apagando as fronteiras entre paisagem e arquitetura.


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