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New York Times

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Bailarinos garantem, com claque, aplausos no Bolshoi

Por ELLEN BARRY

MOSCOU - Em meio à multidão que adentra o Teatro Bolshoi antes do balé, não é difícil identificar Roman Abramov e sua turma, desde que você saiba o que está procurando.O grupo não inclui as novas-ricas que vestem calças saruel com brocados dourados nem os turistas boquiabertos com botas para caminhadas.

O pessoal de Abramov é composto por russas de meia-idade com casacos e expressões compenetradas. Quando vai chegando a hora de subir o pano, elas entram em formações, como nadadoras sincronizadas, e somem em meio ao fluxo de espectadores em direção às suas poltronas.

Na supervisão disso tudo está Abramov, cujo trabalho é arquitetar aplausos e ovações, com base em acordos secretos com os bailarinos, usando cúmplices espalhados pela plateia. Essas colaborações -parte paixão, parte comércio- podem se prolongar durante anos ou desencadear brigas e vinganças dramáticas.

A claque, designação dada a esses fãs profissionais em seu conjunto, já foi comum nos grandes teatros do mundo. Os imperadores romanos tinham profissionais treinados para se misturar às multidões em momentos cruciais, incentivando o entorpecido clamor de aprovação que define um mandato. Esse comportamento foi refinado nos séculos 18 e 19 nos teatros da França, onde foi cunhado o termo "claque", oriundo de um verbo francês.

Na Ópera de Paris, os "claqueurs" se tornaram árbitros do sucesso. Balzac escreve em "A Comédia Humana" que o chefe da claque tinha "o aval dos dramaturgos, todos os quais tinham uma conta com ele, como tinham com um banqueiro". Hoje, Abramov descreve seu trabalho como uma transação: a claque oferece aplausos aos artistas e, em troca, recebe ingressos gratuitos, da cota dos artistas. Como a claque moderna representa vários artistas no mesmo espetáculo, Abramov consegue até 28 assentos, fato notável levando-se em conta que os ingressos para uma apresentação de "O Lago dos Cisnes" custa de US$ 300 a US$ 500.

Pessoas ligadas a essa área argumentam que os "claqueurs" também lucram revendendo ingressos, o que Abramov nega categoricamente. A motivação dos aplaudidores, diz ele, é mais simples: eles são fãs.

Mas por que os artistas precisam deles? Abramov, que começou a frequentar o Bolshoi aos 17 anos e hoje tem quase 50, fala de artistas carentes. "Os artistas têm uma natureza muito fina e delicada. Eles têm um sistema nervoso muito delicado. Infelizmente todos eles têm uma autoimagem fortemente inflada."

Ele pareceu compreensivo ao ser lembrado sobre discordâncias com bailarinos no passado. Sim, é possível bater palmas fora do ritmo quando um dançarino está realizando séries de complexas piruetas chamadas "fouettés".

Mas, nesta noite, não havia tempo para lamentações. "O Lago dos Cisnes" avançava para o seu final, e gritos de "Bravo! Bravo!" emanavam de uma integrante da sua equipe. À medida que a bailarina ia fazendo 32 "fouettés" perfeitos, os gritos passaram a vir de todos os lados.

Era impossível dizer onde terminava a paixão e onde começava a enganação.


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