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New York Times

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No exílio, "mão de ferro" de Karachi começa a perder força

Líder é suspeito de encomendar mortes e lavar dinheiro

Por DECLAN WALSH

LONDRES - Durante duas décadas, Altaf Hussain dirigiu seu brutal império por controle remoto, escondido em um exílio luxuoso em Londres. Ele acompanha os acontecimentos pelos canais de TV via satélite, administra milhões em ativos e emite decretos aos gritos em teleconferências, perpetuando seu reinado político em Karachi, cidade portuária de 20 milhões de pessoas que é o centro da economia paquistanesa.

"A distância não importa", diz a inscrição em um monumento perto da casa deserta de Hussain em Karachi, onde seu nome evoca medo e elogios. Hoje, porém, sua teia está se esgarçando. Uma investigação de assassinato no Reino Unido está se fechando sobre Hussain, 59, e seu partido, o Movimento Muttahida Qaumi.

Sua casa e seus escritórios em Londres foram revistados e a polícia abriu investigações sobre lavagem de dinheiro e incitação à violência. Hussain advertiu seus seguidores de que poderá ser preso a qualquer momento. Em Karachi, alguns se perguntam: estará próximo o fim da máquina política que controla a cidade há três décadas?

"Esta é uma grande crise", disse Irfan Husain, autor de "Fatal Faultlines" [Falhas fatais], sobre o relacionamento entre o Paquistão e os EUA. "O partido se enfraqueceu e Hussain está sendo criticado como nunca." O apoio de Hussain deriva dos mohajires, muçulmanos de língua urdu cujas famílias se mudaram para o Paquistão depois da divisão da Índia em 1947 e que constituem cerca da metade da população de Karachi.

Hussain fugiu para Londres em 1992, quando o movimento se envolveu em uma terrível batalha com o governo central pela supremacia em Karachi. O governo britânico lhe concedeu asilo político.

Londres tem sido há muito tempo o refúgio de líderes paquistaneses autoexilados. O ex-governante militar Pervez Musharraf viveu aqui até recentemente, e o atual primeiro-ministro, Nawas Sharif, morou na cidade até 2007.

O Movimento Muttahida Qaumi tem um escritório em Edgware, no noroeste de Londres. Mas, hoje em dia, Hussain fica principalmente em sua casa suburbana de tijolos vermelhos, protegida por muros, câmeras de segurança e um batalhão de guarda-costas. De lá ele conduz a corte, dirigindo-se a seus seguidores distantes em um estilo vigoroso, às vezes maníaco.

"O culto à personalidade que cerca Hussain é extraordinário", disse Farzana Shaikh, acadêmica e autora de "Making Sense of Pakistan" [Para entender o Paquistão]. Em Karachi, seu partido é liderado por homens e mulheres bem vestidos e de fala culta e já conquistou a reputação de administrador eficiente. Mas seu mandato é apoiado por bandos armados envolvidos em contrabando, sequestros e mortes de adversários étnicos e políticos, segundo a polícia e diplomatas.

Um telegrama diplomático americano de 2008 intitulado "Gangues de Karachi", publicado pelo WikiLeaks, citou estimativas de que o partido tinha uma milícia de 10 mil atiradores, com 25 mil na reserva. Muitos jornalistas que criticaram o partido foram espancados, ou pior. No Ocidente, o partido evitou a atenção da crítica em parte porque se projetou como um inimigo da militância islâmica.

O Movimento Muttahida Qaumi tem filiais ativas em países como os EUA, o Canadá e a África do Sul, dizem investigadores paquistaneses. Dois relatórios de interrogatórios policiais obtidos pelo "New York Times" citam militantes que disseram ter viajado para a África do Sul depois de realizar assassinatos políticos em Karachi.

Mas a sorte de Hussain começou a virar em setembro de 2010, depois que Imran Farooq, um dos líderes do movimento que se afastou do partido, foi esfaqueado até a morte perto de sua casa em Edgware. Pouco depois, Hussain apareceu na televisão lamentando a morte de Farooq. Mas, no último ano, a investigação policial se voltou fortemente em sua direção. Em junho, a polícia foi à casa de Hussain e prendeu Iftikhar Hussain, seu primo e assistente pessoal, que hoje está em liberdade provisória.

A polícia apreendeu US$ 600 mil em dinheiro e joias. Hussain recuou da visão do público durante a recente comoção. Houve rumores sobre problemas de saúde, que seus assessores negam. Alguns temem que, se Hussain for obrigado a se demitir, as tensões no movimento em Karachi poderão dividi-lo em facções hostis -perspectiva assustadora em uma cidade onde a violência política já custa centenas de vidas por ano.

"Por mais errada que seja a conduta do partido, existe uma ordem dentro da aparente desordem", disse Shaikh. "O medo de Karachi se incendiar é tão grande que nenhum governo pode assumir o risco, enquanto Altaf Hussain viver."


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