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New York Times

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Eleição japonesa mostra indecisão sobre energia nuclear

Pessoas apoiam Abe, mas não querem reativar usinas

Por MARTIN FACKLER

TÓQUIO - Vários países industrializados deram as costas à energia nuclear em consequência do desastre na central de Fukushima, incluindo um que já começou a fechar permanentemente usinas em funcionamento.

"A Alemanha decidiu se livrar da energia nuclear por causa de Fukushima. Mas e o Japão, onde ocorreu o acidente?", pergunta Jun Tateno, autor de vários livros sobre energia nuclear. "Ainda não tivemos um verdadeiro debate público sobre a questão mais fundamental: queremos a eletricidade de baixo custo da energia nuclear para crescer ou queremos uma sociedade mais segura?"

Muitos analistas esperavam que uma recente votação para escolher o próximo governador de Tóquio fosse esse fórum. Mas os resultados da disputa -que teve campanhas malsucedidas de dois candidatos antinucleares- não ficaram claros.

O atual primeiro-ministro, Shinzo Abe, disse um dia depois da eleição que em breve divulgará uma estratégia energética "realista e equilibrada", que, no entender dos analistas, pedirá a reativação de pelo menos algumas usinas nucleares aposentadas. Mas alguns especialistas advertem que Abe ainda poderá enfrentar uma reação pública se se mostrar apressado a devolver ao Japão a sua situação anterior ao acidente.

A eleição parece representar a indecisão que manteve o Japão paralisado durante quase três anos, desde a fusão tripla dos reatores. Após décadas de avanço na crença de que o país pobre em recursos precisava da energia nuclear barata para competir economicamente, o Japão não consegue chegar a um novo consenso nacional sobre o assunto.

Os eleitores continuam enviando sinais mistos. Eles escolheram o partido pró-nuclear de Abe nas eleições nacionais, mas depois se opuseram à reativação de usinas nas pesquisas de opinião. Isso deixou o país, que costuma ser dirigido por consenso, sem um caminho a seguir. Enquanto isso, o superavit comercial japonês se transformou em deficit, devido ao aumento dos gastos com combustíveis fósseis, para compensar a perda da energia nuclear.

"As pessoas podem não estar sentindo agora o dano econômico, por causa da melhora geral causada pelo plano de Abe", disse Koji Nomura, professor de economia na Universidade Keio, em Tóquio. "Mas essa é uma conta que terá de ser paga."

O primeiro-ministro e seus aliados na comunidade empresarial afirmaram o mesmo, dizendo que o desligamento dos 48 reatores operáveis do país ameaça a política de Abe, forçando o Japão a importar mais de US$ 36 bilhões em combustíveis todo ano. Mas nem mesmo Abe está disposto a forçar sua tese ligando as usinas.

Embora o candidato do partido no governo, pró-energia nuclear, tenha prevalecido, os analistas dizem que ele conseguiu isso em parte ao se distanciar de sua posição, com vagas expressões de apoio a um desligamento gradual da energia nuclear.

Os dois candidatos que pediram o desligamento imediato de todas as usinas atômicas também se saíram melhor do que os resultados sugeriam, ganhando ao todo 1,9 milhão de votos, apenas 200 mil a menos que o vencedor. E o único candidato declaradamente pró-nuclear de alguma estatura ficou em um distante quarto lugar. Ao mesmo tempo, segundo analistas, os eleitores de Tóquio não pareceram convencidos pela visão articulada do candidato antinuclear de alto perfil, o ex-primeiro-ministro Morihiro Hosokawa.

Alguns analistas dizem que, afinal, esperam que o Japão volte à posição que Abe eliminou quando assumiu: permitir a reativação das usinas mais novas, em troca de promessas de que o Japão futuramente eliminará a energia nuclear quando forem desenvolvidas alternativas realistas.

"Nem Abe nem Hosokawa estão no centro da opinião pública", disse Takeo Kikkawa, especialista em energia na Universidade Hitotsubashi de Tóquio. "Um desligamento gradual continua sendo a melhor solução para o problema nuclear, enquanto se preserva o crescimento."

Colaborou Hisako Ueno


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