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New York Times

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Economia provoca êxodo em Porto Rico

Por LIZETTE ALVAREZ

SAN JUAN, Porto Rico - Alexis Sotomayor tem muitos motivos para ficar em Porto Rico: seus dois filhos, as conversas com sua mãe e o bálsamo do sal e sol que alegram a vida na ilha. Mas a empresa de sabão artesanal que Sotomayor construiu quase não se sustenta em meio aos custos e impostos crescentes e às vendas que caíram 40% em cinco anos. O crime é generalizado. Sua namorada quase foi sequestrada sob a mira de armas.

Então, em janeiro, ele embarcou em um avião para Orlando, na Flórida, para uma entrevista para um emprego em uma destilaria de rum, na esperança de aderir à diáspora porto-riquenha. "Não vejo a coisa melhorar", disse Sotomayor, 47, engenheiro químico. "Vejo-a piorar. É a incerteza. O que vou fazer, esperar que piore?"

A crise econômica de Porto Rico atingiu um novo piso recentemente, quando as agências de classificação Standard & Poor's e Moody's reduziram a nota de sua dívida para a posição de "lixo", desprezando uma série de medidas de austeridade tomadas pelo novo governador, que incluem aumento de impostos e revisão das pensões.

Mas essa é apenas a última etapa em um declínio acentuado que causa temores generalizados sobre o futuro de Porto Rico. Nos últimos oito anos, os problemas cresceram, sem solução: uma dívida de US$ 70 bilhões, índice de desemprego de 15,4%, custo de vida disparado, crime generalizado, escolas em péssimas condições e um preocupante êxodo de profissionais e porto-riquenhos da classe média para lugares como Flórida e Texas.

A situação ficou terrível em Porto Rico, território dos Estados Unidos com 3,6 milhões de habitantes que é tratado em grande parte como um Estado.

Alejandro García-Padilla, que foi eleito governador de Porto Rico em 2012, disse que, depois que começou a analisar os problemas econômicos e sociais, seus instintos de lutar ou fugir entraram em ação.

"Pensei em pedir uma recontagem", disse recentemente García-Padilla, 42, com um sorriso, em La Fortaleza, a residência de governo que tem 500 anos, lembrando entre outras coisas o deficit de US$ 2,2 bilhões. "Mas agora é tarde demais."

As ruas estão cheias de lojas vazias em San Juan e em cidades menores como Mayaguez. Muitas pequenas empresas fecharam, duramente atingidas pelo alto preço da eletricidade e da água, pelos impostos e pela queda das vendas.

As escolas continuam fechadas por causa de falta de manutenção ou do número reduzido de alunos. As comunidades ergueram portões e grades para evitar sequestradores e assaltantes. As drogas ilegais são uma das poucas indústrias que cresceram.

A prolongada recessão atingiu duramente a classe média. Os empregos continuam escassos, os benefícios do Estado encolhem e os Orçamentos continuam apertados. Até pessoas que têm salários preferiram apostar sua cidadania em uma nova vida no continente.

Dos 3,6 milhões de habitantes da ilha, somente 1 milhão trabalham na economia formal. A ilha tem um dos menores índices de participação na mão de obra do mundo, com apenas 41,3% dos porto-riquenhos em idade ativa empregados. Um em cada quatro trabalha para o governo. "Hoje os porto-riquenhos empregados estão se mudando para os EUA", disse Orlando Sotomayor, economista da Universidade de Porto Rico e irmão de Alexis. "Até as pessoas de 40 e 50 anos, professores de faculdade com segurança no emprego, estão fazendo isso. Alguns estão recomeçando tudo. O fenômeno é altamente incomum e salienta a falta de esperança."

Para muitos, o alto índice de crimes violentos foi o principal motivo. Houve 1.136 assassinatos em 2011, um recorde e um índice muito maior que o do continente. Ele caiu para 883 homicídios no ano passado, um ponto de orgulho para o governador.

Quatro dias antes de ter a nota de crédito rebaixada, García-Padilla anunciou que apresentaria um Orçamento equilibrado para o ano que vem. Analistas disseram que a redução da nota tornará mais difícil melhorar a economia. "Eu fiz o possível para evitar um rebaixamento", disse o governador, chamando a medida de "injusta".

Mas nem todo mundo está aplaudindo. Algumas lojas pagam um índice efetivo de impostos de 130%, disse Manuel Reyes Alfonso, vice-presidente de uma associação setorial que representa a indústria alimentícia.

José Revuelta, presidente dos supermercados SuperMax, disse que conseguiu se expandir durante a recessão. Mas agora, com os impostos sobre a receita bruta abalando seus negócios, ele está retendo investimentos em capital, aumentos e bônus. Ele disse que quer ter segurança de que os aumentos de impostos serão temporários.

"Eu posso entender que se faça isso em curto prazo", disse. "Mas precisa haver um plano." Poucos acham que exista um plano para salvar a ilha do naufrágio. "Às vezes você tem de atingir o fundo para se recuperar", disse Mike Soto, presidente do Centro Porto-Riquenho para uma Nova Economia. "Espero que isso esteja acontecendo."


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