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New York Times

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Exposição sobre vikings fascina britânicos

Por KATRIN BENNHOLD

LONDRES - Um balde usado em festins vikings, com quase quatro litros de capacidade e um milênio de idade, atraía num sábado recente um ruidoso debate entre os visitantes da Galeria de Exposições Sainsbury, no Museu Britânico. Eles discutiam em que grau e com que rapidez aqueles antigos escandinavos deveriam se embebedar. "Quantos vikings você acha que eram necessários para entornar isto?", perguntou uma adolescente, percorrendo com os olhos a circunferência de madeira do recipiente. Sua mãe observava, sem palavras.

Essa mistura de deslumbramento e intimidação era amplamente visível em uma concorrida nova exposição, chamada "Vikings: Vida e Lenda", que vai até 22 de junho. Os vikings sempre foram especiais nas tradições britânicas. A exposição explora uma antiga preocupação daqui. Seriam os vikings -aqueles guerreiros beberrões, de humor lacônico e dentes assustadores- mais britânicos que os britânicos?

"Há muitas semelhanças entre nós e eles, e essa é uma das razões pelas quais os vikings são tão romantizados no Reino Unido", disse Gareth Williams, curador-chefe da exposição. A mostra ocorre num momento em que as ilhas britânicas são varridas pela "escandimania", um fascínio por todas as coisas nórdicas, simbolizado por uma série de TV em que um chef-celebridade se dispõe a desvendar o "código Norse" (nórdico, em inglês).

O bem-sucedido modelo socioeconômico escandinavo é interminavelmente dissecado na imprensa britânica e inspira até a torcida de alguns escoceses pela sua própria independência. Uma nova leva de lanchonetes nórdicas está pipocando em Londres, e o "noir nórdico" é a última moda, com uma série de viciantes dramas televisivos dinamarqueses.

Viking significa "pirata" ou "invasor" no idioma nórdico antigo. Mesmo pelos padrões medievais, os nórdicos que chegavam em navios de madeira para pilhar monastérios e massacrar monges eram tão brutais que, a partir da década de 990, o rei inglês Etelredo 2°, o Despreparado, pagou-lhes enormes somas simplesmente para que mantivessem distância. Essa estratégia trouxe um alívio apenas temporário. Em 1013, toda a Inglaterra já estava conquistada pelos dinamarqueses. Mais moedas anglo-saxãs daquele período foram achadas na Escandinávia do que na Inglaterra, e algumas estão agora entre os objetos reunidos na exposição.

Quem vem com a intenção de se encher de horror pelos vikings encontra muita coisa para alimentar a imaginação: as cabeças de ferro dos machados de combate, outrora brandidos com uma mão para mutilar e decapitar; as espadas de dois gumes, ricamente decoradas; e os restos de lanças com o comprimento de um corpo humano, arma preferida dos vikings.

Mais notável por sua ausência na exposição é o familiar capacete viking com chifres ou asas, que só foi inventado no século 19, em meio a outra onda de obsessão pelos vikings na cultura popular. Em vez disso, os visitantes da exposição encontram uma variedade cônica, bem mais banal.

Assim como seus chapéus, a reputação aterrorizante dos vikings também foi "embelezada". Eles perdiam praticamente tantas batalhas quanto venciam. Um dos elementos mais chamativos da exposição, mostrado pela primeira vez, é uma seleção de esqueletos e crânios decapitados, tirados de uma vala comum descoberta em 2009 em Dorset. A datação de carbono sugere que cerca de 50 vikings foram executados lá por volta do ano 1000.

Os esparsos vestígios de um navio de guerra viking de 37 metros, o mais longo já descoberto, é a peça central da exposição.

Descendentes dos vikings originais ainda habitam vários recantos do norte do Reino Unido, especialmente em Yorkshire e na Escócia, onde 20% do DNA local é norueguês. "Em alguns lugares, os vikings eram nossos inimigos", disse Williams. "Em outros, eles na verdade se tornaram 'nós'. Essa é parte da trama."


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