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New York Times

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Fãs buscam túmulos ao lado de ídolos

POR JAMES BARRON

Durante uma pausa em um show no Bronx, o saxofonista e clarinetista Victor Goines percebeu que aquele era um lugar no qual gostaria de passar mais tempo -muito mais tempo. Estar lá o deixaria perto de alguns de seus ídolos, como Duke Ellington. Por isso, ele decidiu gastar US$ 25 mil e adquirir um terreno nas redondezas.

O terreno era o lote n° 10836 GR2-5 em uma encosta da seção Hillcrest no cemitério Woodlawn. O lote fica a 45 metros do local em que Ellington foi sepultado em 1974, e ele não é o único gigante do jazz a repousar naquela área.

"Os lotes são imóveis de primeira linha", diz Goines, 52, que não planeja usar seu terreno por ainda muito tempo. "Tenho vista para Miles Davis, que está do outro lado do mesmo cruzamento, e Illinois Jacquet, cujo túmulo fica dois lotes abaixo do meu".

Para Goines e outras pessoas, essa é só uma maneira diferente de cultuar os seus heróis. Pode ser a forma mais pura de devoção, colocando o fã o mais próximo possível daqueles que ela admirava. A decisão também pode ser vista como um método para conquistar ascensão social. Ainda que a pessoa não seja famosa, estar perto de alguém que foi pode lhe conferir algum prestígio.

É um daqueles detalhes reveladores e inesperados da vida -planejar passar a eternidade perto de alguém famoso. Isso não surpreende os profissionais do setor funerário.

"É mais ou menos como querer viver perto de seu ídolo", diz Patti Bartsche, editora das revistas "American Cemetery" e "Funeral Director". "É uma forma de conquistar prestígio, dizer que você será sepultado ao lado de Lionel Hampton ou de Michael Jackson."

Há escultores amadores que planejaram ser sepultados ao lado de colegas famosos de arte, como o artista de vanguarda Alexander Archipenko. Uma mulher que trabalha no cemitério Woodlawn comprou para sua mãe um lote perto da cripta da estrela da música latina Celia Cruz. Jacob Reginald Scott, empresário que era baterista amador antes de morrer em 2012, está sepultado perto de Max Roach, pioneiro do bebop.

"Ele admirava todas as pessoas com as quais está agora", diz sua viúva Merri Hinkis-Scott.

E há pessoas como Pauline Smith, fã de jazz e dançarina de swing que planeja ser sepultada no Woodlawn perto de Ellington e de Frankie Manning, um dos criadores do lindy hop [estilo de dança surgido no Harlem nas décadas de 1920 e 1930].

"Quem pode saber como é a vida depois da morte?", diz Smith, 74, professora aposentada que vive em uma cidade próxima.

Não surpreende que os lotes próximos ao repouso final dos famosos obtenham preços mais altos. "Os cemitérios adoram esse tipo de coisa", diz Thomas Parmalee, diretor executivo do boletim setorial "Funeral Service Insider". "Quando um lote tem demanda forte, eles podem anunciá-lo por preço mais alto."

Um lote acima do túmulo de Marilyn Monroe, em um cemitério de Los Angeles, por exemplo, foi leiloado no eBay por US$ 4,6 milhões em 2009.

No Woodlawn, Susan Olsen, a historiadora do cemitério, diz que Ellington comprou seu lote no final dos anos 50. O lugar que escolheu não ficava longe do túmulo da cantora Florence Mills, morta em 1927 e celebrada por Ellington na canção "Black Beauty".

O vibrafonista Lionel Hampton pediu que seu pessoal consultasse o Woodlawn, pensando em ser sepultado no cemitério, diz Olsen.

O cemitério queria tanto recebê-lo que mandou cortar uma árvore para criar um lote antes que qualquer arranjo formal fosse feito. "Não ouvimos mais uma palavra sobre o assunto até a noite anterior à sua morte" -aos 94 anos, em 2002-, conta Olsen. "Foi quando seu agente ligou para garantir que o lote ainda estava lá."


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