Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Análise

Os estrangeiros largam na frente

Por ANAND GIRIDHARADAS

Para quem deseja chegar ao fim da vida como um americano bem-sucedido, sobretudo nos Estados Unidos, é útil ter nascido em outro país. Estatísticas mostram que, em média, quem nasce em outros lugares e depois obtém a cidadania americana ganha mais, estuda mais, tem mais chance de se casar e menos probabilidade de se divorciar, tem vida profissional mais estável e escapa mais facilmente da pobreza do que os próprios americanos.

O curioso é onde essas vantagens são mais evidentes. Nos estados cosmopolitas, costeiros e de inclinação esquerdista, as pessoas nativas parecem bem preparadas por suas famílias, escolas e comunidades para ficar em pé de igualdade com estrangeiros. É na "América do Walmart" de direita que os estrangeiros se destacam positivamente.

Um exemplo desse fenômeno é o contraste brutal entre um imigrante próspero e um americano carente. Raisuddin Bhuiyan, um imigrante muçulmano de Bangladesh, trabalhava em uma loja de conveniência em Dallas em 2001; e Mark Stroman atirou em Bhuiyan e o deixou cego de um olho em represália após os ataques terroristas de 11 de Setembro, durante um acesso de fúria em que matou mais dois funcionários imigrantes. Após ter mais informações sobre Stroman e seu passado sofrido, Bhuiyan resolveu perdoá-lo e lutar para salvá-lo da pena de morte.

Bhuiyan rogou a um tribunal do Texas para poupar a vida de seu agressor, pois este não tivera as mesmas vantagens: uma família correta e amorosa, pressão para se esforçar e hábitos virtuosos. O cidadão naturalizado argumentou que o texano não tivera a mesma chance de realizar o sonho americano.

Há muito tempo estudiosos americanos alertam sobre o declínio do "capital social", o que significa a falta de apoio mútuo. Em comunidades semirrurais predominantemente brancas, que muitas vezes pensam estar livres dos infortúnios urbanos, as novas gerações frequentemente são criadas pelos avós, pois os pais são viciados em drogas, estão presos, falidos ou as três coisas ao mesmo tempo.

A maioria dos cidadãos naturalizados -quase a metade dos cerca de 40 milhões de imigrantes nos EUA- chegou por vontade própria, encontrou quem lhes desse emprego e obteve vistos e "green cards". Não é por acaso que os cidadãos mais recentes tenham disposição e sagacidade que os favorecem posteriormente.

Em lugares onde a mobilidade é cerceada, muitos imigrantes podem ter uma margem de vantagem devido à sua capacidade de lidar com os valores contraditórios de seus países de origem e de sua terra adotiva. Imigrantes de sociedades mais centradas na família -México, Índia, Colômbia, Vietnã, Haiti e China, por exemplo- muitas vezes chegam com uma mistura vantajosa de traços individualistas e comunitários.

Pelos padrões de Bangladesh, Bhuiyan era um individualista ferrenho. Mas nos EUA foi sua boa inserção na comunidade que lhe permitiu reinventar-se: amigos lhe deram remédios, sofás para dormir, treinamento grátis em tecnologia da informação e referências para obter trabalho.

Trabalhando no restaurante Olive Garden, Bhuiyan ficou estupefato com a falta de apoio enfrentada por seus colegas. "Eu pensava: será que ninguém da família, o pai, um tio, pode ajudá-los?", comentou ele.

Bhuiyan concluiu que o desejo de autonomia que o fez ir para os EUA foi benéfico, porém frustrou outros que não tiveram o mesmo apoio. A sua república de pessoas que se fazem sozinhas é a república da autodestruição para outros. "Aqui, pensam que liberdade significa fazer e dizer tudo o que se quer. Mas essa definição está errada", disse ele.

Nessa época de impasse e austeridade, muitos imigrantes têm a vantagem de vir de países onde falências e governos omissos são comuns. Eles se veem entre americanos que dependem do Estado para sua sobrevivência econômica, porém são abandonados socialmente, sem apoio quando o Estado falha.

Como muitos imigrantes, desde o início Bhuiyan lutou sozinho para sobreviver, jamais esperando muito do governo. Endividado, ele negociou com médicos e hospitais para reduzir suas contas. Em recuperação na casa de seu patrão, encomendou livros didáticos de informática pela internet, a fim de melhorar suas chances profissionais, e acabou ganhando um salário superior a US$ 100 mil anuais.

O sistema também foi favorável a ele. Leis rígidas impedem empregadores de explorar um recém-chegado ingênuo. Ele implorou ao governador do Texas que tivesse clemência com seu agressor e foi ouvido. Por meio de um fundo para vítimas de crimes, o Texas pagou suas contas médicas.

O êxito dos imigrantes nos lugares mais pobres do país é um lembrete de que o sonho americano ainda pode se realizar, mas para isso é fundamental contar com o apoio alheio. Muitos imigrantes o conseguem porque ajudar o próximo é a norma em seus países.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página