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New York Times

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Cidade salva ícone do passado

Por DAN BARRY

PRAIRIE GROVE, Arkansas - Quando uma motorista deu uma cochilada em uma tarde recente, seu carro atravessou a tranquila rodovia de mão dupla. Ele acabou parando em um gramado, mas antes atingiu um poste, um lampião de gás ornamental e uma estrutura vertical de alumínio e vidro.

A estrutura era uma cabine telefônica, uma das poucas remanescentes desses confessionários de comunicação outrora onipresentes e a última operada pela empresa familiar Prairie Grove Telephone Company, em Arkansas.

A motorista não se machucou, mas a cabine telefônica ficou muito avariada. Ela já estava há meio século plantada diante do Colonial Motel, dos anos 1930.

A cabine quebrada caiu por terra, perdendo seus segredos murmurados e resmungos mundanos, mas ainda tem rabiscos com declarações afetivas ("Eu amo Teresa") e existenciais ("Jimmy Jones esteve aqui"). Transeuntes a levaram para um lugar calmo atrás do escritório do motel.

O dono do motel, Guy Matthews, disse que em suas quatro décadas no Colonial vira muitos adolescentes e caixeiros-viajantes iluminados pelas luzes no interior da cabine enquanto falavam ao telefone. E acrescentou que já fazia muitos anos que a cabine se tornara praticamente uma curiosidade na cidade de 4.600 habitantes.

A Prairie Grove Telephone Company, que atua no oeste do condado de Washington, sabe há muito tempo que sua última cabine telefônica tinha pouca utilidade. Um funcionário, Wade Jones, disse que só retirava as moedas da cabine duas vezes por ano. "Em geral, elas totalizam US$ 2, às vezes um pouco mais", disse.

Então, por que a Prairie Grove Telephone Company mantinha essa relíquia desgastada da telefonia cujo retorno não cobre sequer a despesa de enviar Jones até lá para recolher as moedas?

Essa era a pergunta que David Parks fazia a si mesmo. Seu próprio destino foi traçado em 1888, quando seu bisavô, um médico chamado Ephraim Graham McCormick, estendeu um cabo telefônico pela rua principal de Prairie Grove até a farmácia de seu irmão. Como muitos vizinhos também queriam ter acesso a essa forma de comunicação à distância, o médico e seu sócio fundaram uma companhia em 1906.

Eles tinham um painel de controle de ligações e uma lista telefônica com apenas uma página.

O genro de McCormick, James C. Parks, assumiu o comando por muitos anos, com a companhia telefônica instalada em um pequeno escritório em cima de uma loja de ferragens. Uma foto antiga mostra muitos cabos emaranhados como os cabelos de uma medusa na lateral do edifício, conectando Prairie Grove.

Os filhos gêmeos de Jim Parks, Barry e Donald, assumiram o lugar do pai, e depois o filho único de Donald, David, tornou-se o diretor em 1980. Hoje, ele tem 33 funcionários, 6.900 linhas fixas e 5.800 contas enviadas mensalmente a seus assinantes.

Ainda há centenas de empresas telefônicas rurais pelo país, e frequentemente elas são as únicas provedoras desse serviço nas áreas mais remotas. No entanto, estão em extinção na era digital e têm desafios como se desfazer de linhas terrestres e partir para a telefonia celular e sobreviver à queda nas taxas cobradas por ligações interurbanas.

Todavia, a ausência da cabine telefônica tornou-se instantaneamente um tópico famoso no Facebook, com a população de Prairie Grove implorando pela volta desse ícone do passado. Agindo rapidamente, Susan Parks-Spencer, membro da diretoria de companhia telefônica e prima de Parks, usou o trailer de um amigo para levar a cabine para o depósito da companhia. Em breve, ela será reinstalada no mesmo lugar diante do motel. Parks havia pensado em desativar a cabine, mas mudou de ideia devido à reação no Facebook.

O funcionário mais responsável pela ressuscitação da cabine é Patrick Smith, 50, o qual se lembra de que, na adolescência, costumava ligar dali para sua família quando passava do horário estipulado para voltar para casa.

Ao fechar a porta da cabine telefônica, ele brilhava como um pirilampo. A voz tranquilizadora de sua mãe emanava do receptor. E o jovem prometia chegar logo em casa.


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