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Friedrich Liechtenstein

Para hit da internet, vida é espécie de arte conceitual

Por SALLY McGRANE

BERLIM - Após o sucesso estrondoso do comercial de uma rede de supermercados na internet este ano, Friedrich Liechtenstein, 55, não pode mais andar na rua sem ser abordado por estranhos que pedem para fotografá-lo.

No vídeo, o artista aparece de terno, óculos escuros e barba branca, enquanto dança entre os corredores do supermercado, relaxa numa banheira cheia de leite e diz que tudo, desde bacalhau congelado a produtos orgânicos, é "supergeil", uma expressão levemente obscena que significa "supergostoso".

O comercial já foi visto mais de 11 milhões de vezes no YouTube, e Liechtenstein -que, segundo colegas, leva sua vida como uma obra de arte conceitual- caiu nas graças da mídia alemã.

Assim como outros ex-alemães orientais, Liechtenstein seguiu um caminho moldado pela dissolução das fronteiras e as reinvenções. Desde o início ele teve pendor teatral. Seu verdadeiro nome é Hans-Holger Friedrich e ele nasceu em 1959 em Stalinstadt (atual Eisenhüttenstadt), a primeira cidade-modelo socialista da Alemanha Oriental.

Com arcadas rosa-choque, piscinas em quintais e alto-falantes nas calçadas que transmitem música clássica, parecia "uma cidade cenográfica", nas palavras dele. Os murais realistas de viés socialista, mostrando agricultores e trabalhadores felizes em um mundo sem pobreza, o marcaram profundamente.

"A ideia de que é possível viver sem dinheiro ainda me fascina", disse. Ele treinou para ser cozinheiro e casou-se aos 18 anos, então se tornou um ás na manipulação de fantoches, o que lhe permitiu manter um padrão confortável de classe média. Mas após a morte de sua mãe e o final de seu casamento Friedrich caiu na vida boêmia, apresentando shows solo pela antiga Alemanha Oriental. Posteriormente, dirigiu peças teatrais, mas essa atividade não deslanchou.

Hans-Holger Friedrich então adotou o pseudônimo de Friedrich Liechtenstein. Bizarro, glamouroso e vestido de maneira impecável, ele gravou um disco de pop eletrônico.

Em 2012, porém, estava novamente em baixa, e um amigo propôs que ele morasse na escada do escritório de sua empresa de óculos, em um projeto artístico com duração de cem dias. Liechtenstein aceitou. Ele dormia sobre engradados de plástico em um saguão e suas posses mínimas incluíam um castiçal de prata e um colete japonês de cetim cor de pêssego. "Muitas coisas que você acha necessárias, na verdade não são", disse ele. "Percebi que só preciso de uma cama, uma mesa, bons amigos e algo para comer."

Ele ficou ali durante mais de um ano, e a situação começou a melhorar. "Era inverno", relatou, "e fui para fora. Eu disse: 'Ei, mundo, eu sou imortal. Existirei para sempre. Mas você só existe porque eu o vejo. Se você não me der algo, não conte comigo'."

Pouco tempo depois, ele fez o vídeo do supermercado e, assim que o comercial foi lançado, passou a ter tantos compromissos noturnos que ficou difícil cumprir a rotina matinal no escritório. Mudou-se para o showroom privado da empresa, em um belo edifício preto projetado para expor coleções de arte privadas.

Ao ver pela primeira vez a pequena sala com sacada de vidro, Liechtenstein pensou imediatamente no conceito arcaico de jardim inglês aristocrático como um retiro habitado por um eremita ornamental. Por coincidência, era exatamente isso o que o arquiteto havia imaginado, e Liechtenstein foi ideal para o papel do eremita.

Agora, porém, Liechtenstein não lamenta estar de volta a um apartamento normal. E está prestes a lançar um novo disco, o semiautobiográfico "Bad Gastein", feito com a ajuda de seus filhos.

Liechtenstein, que logo começará a filmar uma série televisiva com dez episódios, ambientada em postos de gasolina, dá de ombros: "Estou feliz com o momento atual", disse.


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