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New York Times

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Bouchra Rejani

Produtora faz ponte entre franceses e países árabes

Por AIDA ALAMI

PARIS - Os pais de Bouchra Rejani tinham sua futura carreira traçada: ela estudaria para ser médica. Aos 18 anos, Rejani se rebelou, fugiu pela janela da casa da família em Cholet, uma pequena cidade no oeste da França, e nunca mais voltou.

Desde então ela cuidou sozinha da própria vida, e talvez seja por isso que Rejani, hoje com 42 anos e uma das produtoras executivas de TV mais bem-sucedidas da França, jamais tenha pensado que ser imigrante árabe poderia representar um obstáculo em um país com um histórico problemático quanto à integração de pessoas com suas origens. "Eu nunca me perguntei como uma mulher árabe pode ser bem sucedida ou se teria de me esforçar duas vezes mais que as outras", disse.

Rejani é a executiva-chefe da Shine France, subsidiária do Shine Group pertencente à empresa News Corporation dirigida por Elisabeth Murdoch, que produz "MasterChef" e "The Voice". Ela esteve envolvida em 2009 na fundação da Shine France, que se tornou a maior produtora de conteúdo televisivo do país.

Thierry Lachkar, que produz reality shows na França, a procurou com a ideia de iniciar o novo empreendimento. Rejani conta que, em apenas duas horas, ele a convenceu a sair de seu emprego confortável para entrar em uma start-up com menos de dez funcionários. "Nós não queríamos produzir futilidades ou programas sem sentido", afirmou ela. "Eu acalentava a ideia de produzir programas otimistas sobre autossuperação e com transmissão de conhecimentos."

Em 2010, eles enfrentaram um início acidentado com a versão francesa de "MasterChef", mas o programa pegou e a empresa passou a produzir outras franquias de sucesso, como "The Voice".

Nascida em um bairro da classe trabalhadora em Casablanca, Marrocos, Rejani tinha apenas 6 meses quando foi com sua família para a França. Seus pais, que mantinham tradições marroquinas e falavam árabe em casa, vendiam produtos agrícolas.

Após sair de Cholet, ela foi para Nantes, onde alugou uma quitinete com a ajuda de amigos e começou a frequentar a universidade local. Para se sustentar, ela tinha três empregos ao mesmo tempo: ensinava inglês, que havia aprendido na escola, servia de babá e de balconista em uma tabacaria.

Rejani então entrou na faculdade de administração de empresas em Nantes e, depois de se formar, começou a trabalhar na firma de auditoria KPMG em Paris.

Em 2004, entrou na FremantleMedia France, onde se tornou diretora de operações. Encorajada pelo êxito da Shine France, ela resolveu estender sua experiência para o noroeste da África. Até agora, quando uma rede recebia os direitos de um programa no mundo árabe, ela comprava os direitos para mais de 20 países da Liga Árabe. Todavia, no outono haverá um "MasterChef" só para marroquinos. Os programas apresentarão chefs e jurados marroquinos.

"Devido às especificidades da cultura, do idioma e da comida, o público e os anunciantes estão ansiosos por isso", disse Rejani.

Em maio, a extrema direita na França, assim como em outros países, obteve uma vitória surpreendente nas eleições para o Parlamento Europeu, e as consequências disso para a população imigrante do país são atemorizantes. Rejani afirma se preocupar, porém acrescenta rapidamente que sua experiência pessoal tem sido extremamente positiva.

"Nunca houve diferenças entre mim e os franceses", comentou. "Mas se eu tivesse crescido em um bairro difícil minha experiência teria sido diferente."

Ela reconhece que sua vida tem sido excepcional.

"Se eu usasse véu, tudo seria bem diferente e possivelmente eu teria enfrentado obstáculos", admitiu ela. "Certa vez, um dos meus professores disse que sua melhor aluna era africana. Foi nesse momento, aos 8 anos de idade, que me dei conta de que eu era africana."


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