Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Depois da catástrofe, reconstrução de NY é repensada

Por N. R. KLEINFIELD

No rastro da tempestade que paralisou e desorientou a região de Nova York, os reparos às redes de eletricidade, redes de transporte e moradias danificadas vão se arrastar durante semanas, ou meses, a um custo exorbitante.

Mas a grande pergunta é o que acontece depois disso. A restauração básica deixa tudo igualmente vulnerável à uma próxima tempestade. O furacão Sandy, que atingiu a região em 29 de outubro, hoje é um parâmetro da nova fragilidade da região. A mudança climática e o clima extremo estão colocando o governo e o público diante de opções surpreendentes.

As autoridades precisam não apenas reabrir o túnel Queens-Midtown, que liga Manhattan ao bairro de Queens, mas também avaliar se colocam comportas marítimas ou instalam barreiras infláveis para protegê-lo.

Em Nova Jersey, o histórico terminal ferroviário de Hoboken, do outro lado do rio Hudson, diante da zona sul de Manhattan, teve 1,5 metro de água no saguão de espera e interruptores e subestações de energia expostos à água salgada. Será suficiente apenas secá-los?

Em um nível mais amplo, as autoridades devem se perguntar se é sensato substituir os prédios nas áreas ribeirinhas em Manhattan, no litoral de Jersey ou na costa de Long Island -e continuar desafiando a natureza. Afinal, as águas que cercam Nova York vêm subindo 2,5 cm por década, um ritmo que vem se acelerando.

Nos últimos dias, as autoridades advertiram que é preciso medidas ousadas, que simplesmente passar um pano não adianta. Os especialistas concordam.

"É algo evidente em Nova York", disse J. David Rogers, professor de engenharia geológica na Universidade de Ciência e Tecnologia de Missouri. "Temos ativos e infraestrutura enormes que queremos proteger."

Mas alguns especialistas também dizem que, depois que os ritmos voltarem ao normal, o público (não mais apavorado) poderá se rebelar se os impostos e as taxas aumentarem muito para pagar por melhores proteções. Apenas o custo dos reparos certamente chegará a dezenas de bilhões de dólares. Soluções mais amplas custarão muitos bilhões a mais.

Há evidências do que é possível nesse sentido. A Holanda, um dos países de menor altitude do mundo, transformou a proteção contra tempestades em assunto de segurança nacional.

Depois de graves enchentes em 1953 que mataram mais de 1.800 pessoas, os holandeses reforçaram suas defesas oceânicas, no que é conhecido como proteção para 10 mil anos -algo que repelirá uma ameaça que tem probabilidade de 0,01% de ocorrer. Com a mudança climática embaralhando os cálculos de tempestades, fala-se em elevar essa proteção para o nível de 100 mil anos.

Não que a história do sistema holandês tenha apenas sucessos. Especialistas ambientais indicam que, na década de 1970, os projetos de prédios em grande escala causaram danos ambientais.

Em Nova Orleans, o Corpo de Engenheiros do Exército ergueu uma proteção para cem anos depois do furacão Katrina. A maioria dos especialistas acha que ela é inadequada. Há iniciativas em curso para imaginar um sistema de defesa para 500 anos.

Enquanto os códigos de construção de Nova York geralmente definem padrões para oferecer proteção por cem anos, o professor Rogers disse que a cidade deveria considerar nada menos que uma proteção para 500 anos.

Poucas soluções simples

Robert D. Yaro, presidente da Associação do Plano Regional, um grupo de pesquisas independente, disse que a região deveria considerar medidas como barreiras contra tempestades, assim como melhores maneiras de isolar túneis e instalações elétricas contra a água. Segundo ele, as companhias energéticas precisam repensar constantemente a colocação dos fios em postes, em vez de enterrá-los, por mais caro que isso seja.

Robert G. Bea, professor de engenharia civil e ambiental na Universidade da Califórnia, em Berkeley, critica os planos agressivos anunciados por alguns políticos, incluindo os que pedem um dique ao redor de Nova York. Algumas soluções poderão causar mais problemas, segundo ele.

Para ele, reforçar e aperfeiçoar o sistema atual talvez seja mais sensato do que um novo sistema. "Pelo menos conhecemos os pontos fracos do que existe hoje."

Em Nova Jersey, a tempestade inundou os pátios de transformadores e as subestações do Serviço Público de Eletricidade e Gás. Mas Ralph LaRossa, presidente da companhia, manifestou descrença sobre a necessidade de tornar todo o seu equipamento à prova de tempestades.

"Se nós os mudássemos de volta, teríamos de condenar propriedades onde vivem pessoas", disse LaRossa. "Algumas pessoas dizem: 'Por que eles não os levantam?' Mas se levantarmos 2,5 metros a próxima tempestade terá 3 metros." Ele preferiria construir com mais redundância, de modo que, quando um caminho é interrompido, a eletricidade possa ser redirecionada.

Buscando terrenos elevados

Nos dias que passaram desde a tempestade, os proprietários em Nova York começaram a avaliar se devem mover os sistemas de distribuição elétrica ou os geradores de apoio dos porões para níveis mais altos. Uma questão é que a cidade atualmente exige que os tanques de combustível para os geradores fiquem nos porões. Quase todos os prédios perto dos rios Hudson ou East sofreram inundações e falta de energia, apesar de as torres mais novas terem se saído melhor.

Nas áreas mais inclinadas a enchentes, a questão é o que deve ou não ser reconstruído. Nos últimos anos, o governo do prefeito Michael Bloomberg promoveu agressivamente o desenvolvimento nas áreas ribeirinhas.

Steven Spinola, presidente do Conselho Imobiliário de Nova York, disse: "Não devemos parar de construir nessas áreas. As pessoas querem viver à beira da água".

Quando o furacão Sandy atingiu a terra, Vishaan Chakrabarti, um ex-planejador da cidade que dirige o Programa de Desenvolvimento Imobiliário da Universidade de Columbia em Nova York, estava em Roterdã, na Holanda, onde comportas marinhas protegem o porto.

"Eu não acho que a questão é se devemos desenvolver ou não à beira-mar", disse. "Esse navio já partiu. Para mim, a pergunta é como devemos proteger o porto."

Ele sugeriu a formação de uma comissão de proteção do porto, feita de autoridades municipais, estaduais e federais.

Enquanto percorria os destroços em Nova Jersey, o governador Chris Christie enfatizou os encantos do litoral e declarou que as pessoas não devem "simplesmente pegar suas coisas e ir embora". Ao mesmo tempo, Christie disse que cabe aos proprietários que tiveram casas destruídas, e não ao governo, decidir se vão reconstruir ou vender suas propriedades para o Estado, para conservação. O litoral de Jersey é responsável por grande parte dos US$ 38 bilhões da indústria de turismo do Estado, com mais de 200 quilômetros de praias.

Dominando a vontade pública

Soluções ousadas murcham se não tiverem o apoio do público. Na hora de um desastre, as pessoas podem exigir que ele nunca mais aconteça. Mas a memória recua.

O sol brilha. A geladeira resfria. Os trens correm. As contas de eletricidade não são altas? Não pagamos o bastante para andar de metrô?

Quase toda a rede de energia da Con Edison, em Manhattan e em partes do Brooklyn, fica no subsolo. John Miksad, o vice-presidente sênior de operações elétricas da companhia, disse que a grande questão é se haverá o investimento de enormes somas para tornar a rede à prova d'água.

"Levar o sistema a um outro nível de proteção não será um exercício de US$ 1 milhão ou 100 milhões. Isso vai exigir bilhões", disse Miksad.

Como a tempestade ocorreu pouco depois da tempestade tropical Irene, no último verão, alguns especialistas dizem que o momento talvez seja propício.

"São necessários dois eventos catastróficos desse tipo em uma única geração para criar o apoio político que sustente investimentos desse nível", disse Yaro, da Associação do Plano Regional.

"Espero que o Irene tenha sido o chamado de despertar e o Sandy a batida do martelo."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página