Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

New York Times

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

JULIE LASKY
ENSAIO

A alma nos objetos de design

Objetos de segunda mão postos à venda são recipientes em que as emoções entram e saem: seu poder de atração tornou-se menor para seus antigos donos, mas pode passar a ser sentido por estranhos.

Mas os objetos não precisam ter sido de outra pessoa para provocar a sensação de serem "possuídos". Nesta temporada de fim de ano, designers estão injetando alma em artigos domésticos e evocando momentos fugazes, materiais frágeis e memórias antigas.

Eles são capazes de captar a segurança da fogueira de acampamento primeva com uma luminária de lâmpada LED que brilha de modo intermitente, como uma vela (Ingo Maurer e Moritz Waldemeyer, US$500), ou de trazer à mente o comportamento infantil com um papel de parede que dá a impressão de ter sido rabiscado com caneta esferográfica (Alissia Melka-Teichroew para a Rollout, US$ 110 por metro quadrado).

Esses produtos se destacam por suas dimensões sensoriais e emocionais -em outras palavras, por sua alma. Mas o que é, exatamente, aquilo que confere alma a um objeto? Fui perguntar isso aos próprios designers.

Para a holandesa Kiki van Eijk, a força que anima seu trabalho é a surpresa. Alguns anos atrás, num mercado de pulgas em Paris, ela viu uma caixa de costura com dobradiças na tampa. Ela prometeu que criaria um móvel que abrisse do mesmo modo. Van Eijk, cuja avó era costureira, disse que queria que o armário tivesse a intimidade de cantinhos escondidos e do trabalho artesanal doméstico.

Ela queria conseguir abri-lo com o dedo mindinho, algo que finalmente conseguiu. "O armário deveria ser um milagre", explicou, "ou, pelo menos, passar essa sensação". Como os milagres não custam pouco, o armário está sendo vendido por US$ 54 mil.

Para a artista plástica Lauren DiCioccio, um objeto com alma é aquele com o qual você tem contato todos os dias, mesmo que seja tão desprezado quanto o saco plástico branco, acusado de destruir o planeta. DiCioccio reproduziu as sacolas como esculturas de pano bordado. Ela criou uma versão funcional: sua sacola de compras Thank You, Thank You, de tafetá, que custa US$ 35.

"Embora os sacos plásticos sejam péssimos para o meio ambiente, um desperdício e uma bobagem, eles nos são muito familiares", comentou.

Jonathan Legge, fundador da butique de design on-line Makers & Brothers, disse que a alma de um objeto vem em grande medida de seu material e "como ele funciona e se desgasta com o tempo". As tábuas de cortar que ele vende, por exemplo, são feitas de faia irlandesa colhida de árvores caídas.

Legge, que vive em Dublin, teve a ideia depois de encontrar uma prancha num latão de lixo. "Eu a desinfetei e a escovei até ficar bem limpa", comentou, falando de seu protótipo.

"Servi algumas refeições sobre ela e comecei a usá-la como tábua de cortar."

As tábuas que ele vende agora têm origem mais higiênica. Legge chamou a atenção para o fato de a faia possuir qualidades antibacterianas naturais.

O que pode ter mais alma do que uma árvore?

Engenhocas de vários tipos também podem ter alma. O alemão Ingo Maurer, poeta da iluminação "high-tech", lançou há pouco tempo a My New Flame com o designer Moritz Waldemeyer, de Londres. É uma luminária em forma de bastão negro com 256 LEDs que simulam a aparência da luz de velas bruxuleante. Preço: US$ 500.

Para Maurer, o sentimento presente na luminária deve-se não à ideia poética do fogo, mas às pessoas envolvidas em sua criação. "Temos mulheres sentadas diante da máquina, inserindo os LEDs, e isso tudo junto um produto enorme, fantástico e com uma energia maravilhosa."

Existem produtos contemporâneos que procuram suavizar as arestas duras da invenção, evocando a nostalgia daquilo que foi superado ou substituído.

Na categoria "sobreviventes", poderíamos incluir um saca-rolha Caveira, de latão e bambu, do designer com formação em Bauhaus Carl Auböck 2°, de Viena. O saca-rolha foi lançado na década de 1950 e agora pode ser encontrado por US$ 250 na loja do Museu Nacional Cooper-Hewitt de Design, em Nova York.

O saca-rolha continua a ser produzido na Áustria seguindo as especificações exatas do original. Caso a sensação sólida do latão não tenha alma o suficiente, o objeto leva o nome da caveira estilizada desenhada no cabo.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página