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New York Times

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STEVEN M. DAVIDOFF
ENSAIO

Crescimento é a questão no choque monetário

Desvalorizar a moeda faz parte da política econômica

Depois de uma queda alarmante no valor da moeda japonesa, o iene -mais de 20% em relação ao dólar desde novembro-, comenta-se em alguns círculos que a maior ameaça que o mundo enfrenta agora é uma "guerra monetária", em que os países correm para desvalorizar suas moedas em uma tentativa desesperada de estimular o crescimento.

Mas a realidade é muito diferente. O que estamos observando de fato é uma discussão sobre como os países industrializados vão sair de seus problemas econômicos e crescer.

O que está acontecendo com as moedas do mundo é que os países maiores e mais maduros reagem a suas próprias crises econômicas adotando políticas monetárias brandas. O problema é que as economias de mercados emergentes não podem reagir com eficácia semelhante por causa de suas próprias questões econômicas ou políticas.

A queda do iene é o produto de uma iniciativa do novo primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, para reanimar a economia sem crescimento e sem inflação do Japão, que está estagnada há mais de duas décadas.

As exportações japonesas subitamente se tornaram muito mais baratas. Quando uma potência exportadora como o Japão desvaloriza sua moeda tão rapidamente, outros países de repente descobrem que seus produtos estão muito menos competitivos.

A questão não é que todos os países se depreciem, mas como as economias de mercados emergentes reagem. A maneira mais fácil seria deixar a moeda se valorizar. Mas os Estados Unidos e o Japão se beneficiariam com uma moeda mais barata e com mais crescimento, enquanto os países em desenvolvimento se beneficiariam com uma moeda mais forte e com a capacidade para comprar mais produtos para o consumo.

Mas, para muitos países de mercados emergentes, é difícil fazer isso politicamente, pois significará que em curto prazo seus produtos serão menos competitivos e suas bases manufatureiras entrarão em declínio, com perda de empregos.

Em vez disso, esses países têm maior probabilidade de enfrentar a desvalorização do iene tentando conter a valorização de suas moedas. As reações de cada país podem variar, mas há três maneiras comuns de reduzir a cotação de uma moeda: uma rodada de facilitação quantitativa para expandir o balanço do banco central, taxas de juros mais baixas ou controles de capital.

Essas possíveis reações mostram que a guerra monetária, na verdade, tem a ver com desacordos políticos entre economias sobre como abordar as políticas monetárias brandas dos maiores países industrializados. (A União Europeia escolheu outro caminho, recusando-se a adotar uma abordagem de estímulo.)

Isso explica por que as autoridades financeiras e banqueiros centrais do mundo não assumiram uma posição clara.

Depois que Lael Brainard, um subsecretário do Tesouro dos EUA, lamentou os "boatos sobre as moedas" e disse que os EUA apoiaram "iniciativas para revigorar o crescimento e pôr fim à deflação no Japão", ministros das Finanças do Grupo dos 20 divulgaram um comunicado.

Ele dizia que sua política não é "visar nossas taxas de câmbio com objetivos de concorrência" e que "o excesso de volatilidade dos fluxos financeiros e movimentos desordenados das taxas de câmbio têm implicações negativas para a estabilidade econômica e financeira".

Já uma declaração do Grupo dos 7 disse que os países "têm estado e continuarão orientados para cumprir respectivos objetivos internos usando instrumentos domésticos, e não vamos visar as taxas de câmbio".

Uma prosa mansa como essa é típica dessas reuniões, mas o Grupo dos 7 pareceu endossar os esforços do Japão. Mas, se você examinar a declaração do Grupo dos 20, que inclui o Brasil e a Coreia do Sul, ela foi menos favorável, dizendo apenas que não haveria uma desvalorização competitiva. Não é surpresa que esses países sejam os mais afetados pelos atos dos EUA e do Japão.

Em última instância, porém, as conversas sobre uma verdadeira guerra monetária, em que os países desvalorizam competitivamente suas taxas de câmbio em um jogo de soma zero, são exageradas. O motivo é que mesmo para os países que podem se desvalorizar, a aposta é muito alta nesse jogo.

Em vez disso, os países agirão dentro de faixas, com base em suas opções e situações. Nenhum país usará a mesma tática ao mesmo tempo por causa de suas diferentes posições econômicas. O jogo monetário se desenrola em câmera lenta enquanto cada país adota sua abordagem preferida.

Em vez de uma guerra monetária, o que estamos vendo são os problemas cotidianos de uma economia global em que os países estão altamente conectados.


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