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New York Times

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Dramaturgo chileno explora violência política em "Neva"

Por LARRY ROHTER

Quando era estudante universitário de cinema, dez anos atrás, Guillermo Calderón costumava explorar as livrarias de Manhattan, onde encontrou "Reading Chekhov", de Janet Malcolm. O livro estimulou seu interesse pela cultura e pela política russas.

"Gosto muito da ideia de escrever a partir da história -a ideia de abrir um livro de história e encontrar dentro dele uma obra teatral", comentou o dramaturgo chileno durante uma pausa nos ensaios de "Neva", que fez sua estreia em língua inglesa no Public Theater, em Nova York, em 11 de março.

Na peça, também dirigida por Calderón, a viúva de Tchekhov, a atriz Olga Knipper, e dois personagens fictícios, também atores, se encontram num domingo de janeiro de 1905 para ensaiar em São Petersburgo, enquanto o ato de abertura da Revolução Russa acontece do lado de fora.

Com a polícia do czar abatendo manifestantes a tiros, Knipper (Bianca Amato) parece estar desligada da realidade. Sua atenção está focada na noite de estreia e em aperfeiçoar seu monólogo em "O Jardim das Cerejeiras".

De acordo com Calderón, a questão central da peça é: "Para que assistir a uma obra teatral quando as pessoas estão morrendo todos os dias em função da política?".

Embora a história seja ambientada na Rússia, esse questionamento também tem sua origem na experiência de vida pessoal do autor. Ele nasceu na capital chilena, Santiago, em 1971, no auge do governo de esquerda de Salvador Allende, chegando à maioridade sob a ditadura do general Augusto Pinochet. Seu tio foi morto pela polícia de segurança de Pinochet.

"Eu cresci com isso e com algo que coloquei em minhas outras obras também: a vida doméstica, a vida entre quatro paredes, num contexto de violência", comentou Calderón.

"Você está comendo em casa, e a televisão está transmitindo notícias sobre todas as coisas horríveis que aconteceram. Você ouve tiros, eles desligam a eletricidade, coisas desse tipo."

"Esse contraste entre o mundo externo e o mundo doméstico é algo que eu quis mostrar aqui: as pessoas estavam num espaço fechado, mas estavam ouvindo os tiros", disse.

Calderón não começou com a intenção de ser dramaturgo ou diretor. Inicialmente, foi ator de teatro e televisão. Mas decidiu que queria algo diferente e escreveu "Neva" (o nome vem do rio que atravessa o centro de São Petersburgo) para "preencher um vazio que sentia".

Depois de receber prêmios no Chile, em 2007, a versão original (em espanhol) da peça já foi encenada em lugares como Colômbia, França, Los Angeles e até mesmo no Festival Tchekhov, em Moscou, na Rússia.

Calderón se sente dividido quanto ao sucesso global de "Neva". Ele se lembra de ter visto dois dos ex-ministros do general Pinochet, "pessoas que eram a encarnação do mal", assistindo à peça em Santiago e saindo de bom humor, "com certeza para tomarem um drinque em algum lugar". Isso o levou a rever sua abordagem e reforçou sua convicção de que "o teatro é um campo de batalha".

"Preciso radicalizar meu trabalho ainda mais", lembra de ter pensado na época. "Com o passar dos anos, fui ficando mais abertamente politizado."


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