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José Goldemberg

NÃO

A última das opções

São Paulo deve racionar água?

A água, assim como o ar, é essencial para a vida humana. Mas, enquanto o ar está disponível para todos, a água é distribuída de forma pouco equitativa no mundo e até mesmo no país.

A civilização humana, com suas grandes cidades, desenvolveu-se, em geral, nas margens dos rios que fornecem o volume necessário do recurso para uso humano (18%), bem como para irrigação (63%) e para as indústrias (14%).

Acontece que muitas cidades cresceram de tal forma que é preciso buscar água a longas distâncias para seu abastecimento. Há 2.000 anos, os romanos já sabiam disso e os magníficos aquedutos que construíram resolviam esse problema trazendo água das montanhas para as comunidades.

Com a urbanização crescente, uma característica dos nossos dias --em especial, no Brasil--, é preciso transportar a água de áreas cada vez mais distantes, agora não por meio de aquedutos, mas por intermédio de grandes tubulações ou canais. Quanto maior o percurso, maiores precisam ser os investimentos. Às vezes, a água escoa pela gravidade, mas, frequentemente, enormes bombas são necessárias para levá-la ao destino desejado, o que também eleva seu custo.

A falta de chuva nos últimos meses causou o esvaziamento dos reservatórios que suprem água para a região de São Paulo. Em condições normais, eles seriam suficientes e, então, nos perguntamos se não seria o caso de racionar a distribuição para conscientizar as pessoas de que deveriam reduzir seu consumo por meio de medidas de economia.

Há, de fato, espaço para essas reduções. O consumo médio por habitante em São Paulo é de cerca de 150 litros/dia, acima, portanto, do mínimo indispensável recomendado pela Organização Mundial de Saúde, que é de 100 litros/dia.

A experiência mostra que premiar as pessoas por economizar água é uma medida eficiente. A estratégia que a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) está adotando --descontos de 20% na conta para quem diminuir seu consumo em 20%-- encoraja as pessoas na adoção de boas práticas como eliminar vazamentos de torneiras, evitar banhos prolongados ou lavar a calçada com água potável.

O mais interessante é que quando a necessidade de contenção acaba (devido a chuvas abundantes), essas boas práticas permanecem e os hábitos de consumo realmente mudam. Isso é o que ocorreu nos anos de 2001 e de 2002, quando, diante do risco de racionamento de energia elétrica, a população se conscientizou de que precisava diminuir o uso da eletricidade e conseguiu fazê-lo.

Essas medidas são, de certa forma, bem-vindas, mas demoram a dar resultado. Assim como a redução das perdas de água nas redes da Sabesp, que, aliás, não são maiores do que na Alemanha ou no Japão. E estão caindo. É por isso que se propõe o racionamento como medida traumática para promover o seu uso consciente.

Por outro lado, racionamento é uma medida extrema que pode atingir diferentes setores da sociedade, inclusive de forma perversa. Hospitais e lavanderias não podem ficar sem água, tampouco indústrias, que de modo geral já otimizaram seu uso devido ao preço elevado. Além disso, a falta de água gera redução de medidas sanitárias em restaurantes e residências que possam ocasionar problemas de saúde.

A ameaça de racionamento pode até encorajar as pessoas a conter o uso de água, mas implantá-lo é, ainda, a última das opções. Mesmo que seja mais caro, o ideal é trazê-la de distâncias maiores.


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