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Karine Pansa
Sobre livros e gols
Eventos de tamanha proporção, mesmo quando permeados de polêmica, como a Copa, podem ser decisivos para a formação de leitores
Em 1990, a Alemanha Ocidental foi a campeã da Copa do Mundo da Itália. Naquele ano, nosso país produziu 236,3 milhões de livros e 22,4 mil títulos. Em 1994, ano em que a seleção canarinho conquistou o tetra nos gramados dos Estados Unidos, foram 246 milhões de exemplares e 38,2 mil títulos brasileiros.
Neste 2014 em que o Brasil sedia esse grande evento esportivo internacional, já ultrapassamos os 450 milhões de exemplares e nos aproximamos de 60 mil títulos anuais. A evolução dos números aferidos pela Fipe na Pesquisa de Produção e Vendas do Mercado Editorial mostra a crescente profissionalização do setor e o avanço na luta para que o país tenha cada vez mais leitores.
Algo importante nesse processo --e daí a analogia com a Copa-- é o quanto o mercado editorial deve aproveitar as oportunidades para conquistar mais público. De janeiro a maio de 2014, o volume de títulos relativos à competição e ao futebol cresceu 400% em relação a igual período do ano anterior.
Tais estatísticas também suscitam uma ponderação: é preciso diagnosticar os temas de ficção e não-ficção que sensibilizam e atraem o público, inclusive do ponto de vista da segmentação. Nem todos os assuntos são tão óbvios como a Copa do Mundo, mas sempre é possível entender o mercado, perceber suas nuanças, tendências, gostos e possibilidades.
Nesse sentido, pesquisas como Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, têm fornecido subsídios ao mercado e até mesmo à formulação de políticas públicas. Em sua última edição, o estudo demonstrou que metade da população brasileira com cinco anos ou mais (cerca de 88 milhões de pessoas) é constituída por leitores, tecnicamente definidos como aqueles que leram pelo menos um livro nos três meses anteriores.
O dado é positivo por um lado, pois mostra uma sensível evolução, mas também deixa claro o longo percurso que temos de percorrer para conquistarmos 50% do mercado em potencial. E é aí que entram oportunidades como a Copa do Mundo, um tema atraente e lúdico para parcela expressiva da população, incluindo as crianças.
O sucesso dos álbuns de figurinhas das seleções, verdadeira febre a cada quatro anos, sinaliza uma tendência que não pode ser ignorada. Em 2014, a editora que detém os direitos da Fifa para produzi-los distribuiu 8,5 milhões de exemplares em todo o mundo.
Eventos de tamanha proporção e atratividade, mesmo quando permeados de polêmica, como está ocorrendo com a Copa do Mundo do Brasil, podem ser decisivos para a formação de leitores.
Por isso, mais importantes do que os cinco títulos mundiais da seleção brasileira (tomara que ganhemos o sexto em 2014) são os cerca de 60 mil títulos de livros a que estamos chegando e quantos mais pudermos produzir nos próximos anos. Para isso, não podemos perder oportunidades de conquistar leitores. Quando campeões em leitura, seremos quase imbatíveis no campeonato do desenvolvimento.