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Hélio Schwartsman

Dúvidas na desigualdade

SÃO PAULO - Estava no finzinho do livro do Piketty --investimento de semanas de leitura--, quando veio a notícia de que dados de desigualdade por ele usados podem estar errados. Contrariando o conselho padrão de assumir as perdas e cair fora, fui até o fim. Não me arrependi.

"Capital no Século 21" é uma obra instigante. É erudita, didática e muito honesta, ainda que não saibamos por ora se deve ser catalogada como texto de história econômica ou peça de ficção. Brincadeiras à parte, penso que levará um tempo para avaliarmos a extensão do estrago que os erros apontados pelo "Financial Times" causam às teses do autor.

O fulcro do livro, afinal, eram as séries históricas sobre desigualdade que ele levantara. Se elas têm problemas, as conclusões podem se tornar mais fracas. Eu ficaria surpreso, contudo, se fossem rechaçadas. Esse, porém, é um debate que pode ficar bastante técnico e no qual eu não tenho a menor condição de tomar partido.

Posso, entretanto, lamentar que Piketty, que dedica quase 700 páginas ao tema da desigualdade, ornando-o até com saborosas digressões literárias, não nos tenha oferecido uma boa razão filosófica de por que devemos combatê-la (e existem várias linhas de respostas).

É claro que, se imaginarmos a desigualdade tendendo ao infinito (um coeficiente de Gini global de 1), chegaríamos a um estado onde a sociedade simplesmente não funcionaria. Mas será que isso é verdade em cenários menos extremos e mais realistas?

Para pensadores clássicos e algumas correntes libertárias, a disparidade de renda não chega a ser um problema funcional nem moral. Desde que não haja miséria e todos estejam melhorando de vida, a desigualdade funciona até como um motor da economia. O consumo conspícuo e a busca por status (possuir mais que meu vizinho) é que levam as pessoas a trabalhar mais. Enfim, há aqui um riquíssimo debate no qual o livro de Piketty apenas resvala.


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