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Hélio Schwartsman
O manual de Pinker
SÃO PAULO - Depois de livros de fôlego como "Como a Mente Funciona" (1997), "Tabula Rasa" (2002), "Do que É Feito o Pensamento" (2007) e "Os Anjos Bons de Nossa Natureza" (2011), o linguista e psicólogo evolucionista Steven Pinker resolveu pegar mais leve e acaba de lançar "The Sense of Style" (o sentido do estilo), que não é nada mais do que um manual de estilo.
Diferentemente de outras obras do gênero, que amparavam suas prescrições em mitos e dogmas sem justificativa linguística, Pinker traz um pouco de ciência para o ramo. A mudança de perspectiva gera vítimas. A noção de erro, por exemplo, tão cara aos gramáticos prescritivos, não sobrevive bem à abordagem crítica.
Com base em pesquisas sobre a dinâmica mental da leitura, notadamente as exigências que a compreensão de uma frase impõe à memória, o cientista cognitivo pretende derivar regras que ajudam a tornar os textos mais claros, graciosos e eficazes. O benefício adicional, diz o autor, é que esse tipo de lógica é mais fácil de lembrar do que as listas de proibições dos manuais tradicionais.
Há de fato dicas úteis sobre como organizar frases mais longas, poupando os recursos cognitivos do leitor. O linguista também revela fontes comuns de ambiguidades e mal-entendidos e sugere truques para evitá-los. Mas o próprio Pinker não consegue escapar inteiramente aos dogmatismos e idiossincrasias que denuncia nos outros. Ele nos manda evitar, por exemplo, a proliferação de aspas e de outras formas de intromissão metadiscursiva, mas não consegue justificar o conselho sem recorrer pelo menos parcialmente a suas próprias preferências.
"The Sense" está longe de ser a obra-prima de Pinker, mas é um livro divertido, notadamente nas partes em que o autor vitupera contra os prescricionistas, e que ainda nos faz refletir sobre o ato de escrever, o que em condições normais tende a aprimorar nossos textos.
